Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica). Foto: Leopartnik/Wiki Commons

América do Norte perdeu 3000 milhões de aves nos últimos 50 anos

O número de aves nos Estados Unidos e Canadá caiu fortemente desde os anos 1970, com o desaparecimento de mais do que um em cada quatro indivíduos.

Num estudo publicado agora pela revista Science, cientistas tentaram estimar pela primeira vez as perdas globais de aves nesta região do mundo, analisando as populações nidificantes de 529 espécies registadas em diversos censos ao longo das últimas décadas. Por exemplo, as Contagens de Aves no Natal ou o Censo de Aves Nidificantes da América do Norte.

A equipa de investigação, que incluiu investigadores da American Bird Conservancy e do Canadian Wildlife Service, entre outros, recorreu também a informação obtida por radares meteorológicos, que conseguem seguir grandes bandos de aves em migração.

Resultado? Comparando com a década de 1970, há actualmente menos 2,9 mil milhões de aves nidificantes nos Estados Unidos e Canadá, ou seja, espécies que se reproduzem nesses países.

O estudo confirmou que as aves estão a ser mais gravemente afectadas em habitats que estão também eles em perigo, em especial nas zonas de pradaria e também na tundra do Árctico. Nas pradarias, por exemplo, houve um declínio superior a 40%: menos 720 milhões de aves nidificantes num total de 31 espécies, desde a década de 1970.

Já nas florestas, contam-se hoje menos 1000 milhões de aves do que acontecia em 1970.

No geral, as perdas fazem-se sentir em aves presentes um pouco por todo o lado. Contas feitas, 90% dos 2,9 mil milhões de indivíduos desaparecidos fazem parte de 12 famílias de aves comuns, incluindo pardais, melros e tentilhões. “Aves comuns encontradas em muitos habitats – mesmo espécies introduzidas e presentes em todo o lado como os estorninhos europeus – sentiram algumas das piores perdas”, destaca uma notícia da Audubon.

“Estas espécies comuns e presentes por todo o lado têm papéis influentes nos ecossistemas. Se estão em perigo, a teia mais vasta da vida, incluindo nós, também está em perigo”, sublinha o novo site 3billionbirds.org, criado por várias instituições ligadas a este estudo.

Quais são as causas do declínio geral? Os cientistas acreditam que se devem a vários factores, mas principalmente à perda e degradação de habitats. Em causa estão também o uso de pesticidas, a redução de insectos que são importantes alimentos para muitas aves, as alterações climáticas, os ataques por gatos de rua, as turbinas eólicas e as linhas eléctricas, os choques de aves contra janelas, entre outros.

Patos, gansos e cisnes aumentam

“A minha esperança é que isto irá despertar um maior reconhecimento de que precisamos realmente de cuidar do nosso ambiente”, acredita Arvind Panjabi, um dos co-autores do estudo, citado pela Audubon. “Para evitarmos que outro terço das aves desapareça em pouco tempo, temos de mudar a forma como fazemos as coisas.”

Ainda assim, houve algumas melhorias, incluindo no grupo dos patos, gansos e cisnes. Estas espécies tiveram um crescimento global de 34 milhões de indivíduos desde 1970, o que é atribuído aos esforços de conservação nas zonas húmidas norte-americanas.

Mas não é só na América do Norte que têm surgido notícias preocupantes sobre a situação das aves. Em Portugal, uma análise dos resultados do Censo de Aves Comuns desde 2004, divulgada em Março, revelou que várias espécies de aves comuns também têm vindo a perder terreno, incluindo pardais.

Tendências semelhantes foram reveladas há pouco tempo noutros países europeus, incluindo França e Espanha. Neste último país, por exemplo, uma análise dos resultados de censos apontou para a perda de 30 milhões de pardais na última década.


Agora é a sua vez.

No site 3billionbirds.org, várias instituições ligadas ao novo estudo sugerem sete medidas simples que todos nós podemos tomar para ajudar a proteger as aves comuns:

  • Tornar as janelas mais seguras, de dia e de noite, colocando películas autocolantes que evitem o reflexo do céu e das luzes nocturnas.
  • Manter os gatos domésticos dentro de casa. Nos Estados Unidos e Canadá, estima-se que estes gatos matam anualmente mais ide 2,6 mil milhões de aves.
  • Reduzir relvados e cimento e plantar espécies nativas, que dão abrigo e comida às aves.
  • Evitar a aplicação de pesticidas, que são tóxicos para a vida selvagem (e também para os humanos, no caso do glifosato, por exemplo).
  • Beber “café amigo das aves”, pois três quartos do café plantado em todo o mundo destrói florestas de que as aves precisam como habitat.
  • Proteger o planeta dos plásticos.
  • Ajudar na monitorização de aves e partilhar o que vê, por exemplo no portal eBird.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.