Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ/arquivo

Andaluzia activa colaboração com hospital veterinário de Madrid para salvar lince de 14 anos

A Junta da Andaluzia activou um protocolo de cooperação com o hospital veterinário Privet de Villaviciosa de Odón, em Madrid, para tratar Damero, um lince-ibérico de 14 anos com lesões pulmonares de difícil diagnóstico.

Para determinar a gravidade da doença deste animal são precisos exames complexos que aquele centro de Madrid se ofereceu fazer de forma gratuita. 

A conselheira da Andaluzia para o Desenvolvimento Sustentável, Carmen Crespo, salientou em comunicado que, “graças à cooperação público-privada, podemos levar à conservação da fauna silvestre técnicas de diagnóstico clínico realmente excepcionais que nos permitem contar com mais informação na hora de definir o procedimento mais adequado para cada animal”.

Damero é um macho de 14 anos que viveu muito tempo em liberdade na Serra Morena. Normalmente, um exemplar desta espécie protegida não chega à velhice no meio natural, já que o habitual é que as fraquezas físicas naturais do passar do tempo tornem aconselhável a sua captura e transporte para um Centro de Recuperação de Espécies Ameaçadas (CREA). Neste caso concreto, a complicada condição física deste lince exigiu o internamento no CREA Los Villares de Córdoba.

Desde a sua captura, Damero tinha mantido um bom estado de saúde e estava adaptado à vida em cativeiro. No entanto, no passado mês de Junho, foi detectada uma infecção respiratória que preocupou os veterinários. A avaliação sanitária realizada pela equipa do CREA corroborou que o animal apresentava lesões pulmonares, mas os exames não conseguiram determinar com precisão a origem da doença. Esta informação é de grande relevância para decidir qual a melhor forma de tratar Damero

“Uma vez que para avançar no diagnóstico eram necessárias mais provas clínicas e de custos elevados – como a tomografia axial computorizada ou a ecocardiografia – a Junta da Andaluzia realizou uma ronda de consultas sobre o caso, na qual participou o hospital veterinário Privet. A clínica ofereceu as suas instalações, as suas equipas e o seu tempo para realizar gratuitamente estes exames a Damero e assim contribuir para um diagnóstico correcto e rigoroso que permita tomar uma decisão para o seu futuro”, explica a Junta no comunicado.

Carmen Crepo adiantou que quando forem conhecidos os resultados dos exames que, entretanto, já começaram a ser feitos a Damero, “os profissionais do governo andaluz farão tudo o que estiver ao seu alcance para dar uma maior qualidade de vida a este lince”.

“Cuidar dos animais é o nosso dever enquanto Administração responsável pelo Ambiente mas, sobretudo, é um privilégio tentarmos ajudar animais como Damero a fazer frente à sua doença da melhor maneira possível”, acrescentou.

O lince-ibérico (Lynx pardinus) é uma espécie Em Perigo de extinção. O número total de exemplares em Portugal e Espanha ascende a 1.111, entre indivíduos adultos ou subadultos e as crias nascidas em 2020, revelou o Ministério espanhol para a Transição Ecológica e Desafio Demográfico (MITECO) em Maio deste ano.

Este número é o máximo registado desde que começaram os programas de monitorização da espécie. Um sucesso, se pensarmos que em 2002 apenas foram encontrados menos de 100 animais. 

Ainda assim, os peritos pedem prudência e insistem na necessidade de manter os esforços e programas de conservação, uma vez que a espécie não está fora de perigo e continua legalmente a ser considerada Em Perigo de extinção.

Em Portugal vivem 140 linces, todos na área do Vale do Guadiana. Este número corresponde a 12,5% do total de exemplares registados durante 2020.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.