Andaluzia encerra temporada de reprodução de quebra-ossos com oito crias

Quebra-ossos. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

O Centro de Reprodução em cativeiro do quebra-ossos (Gypaetus barbatus) em Guadalentín, em pleno Parque Natural Sierras de Cazorla, Segura y las Villas (Andaluzia) conseguiu oito crias nesta temporada de reprodução, menos duas do que na temporada anterior.

Com estas oito crias, o centro da Junta da Andaluzia en Jaén concentra 61% de todos os nascimentos desta espécie ameaçada na rede de instalações especializadas da Europa dedicadas à sua reprodução em cativeiro, segundo um comunicado daquela Junta divulgado a 24 de Abril.

Além das oito crias do centro de Guadalentín – menos duas do que no ano passado, quando foi batido um recorde – nasceram outras cinco crias em centros espalhados pela Europa: no CRF Vallcalente (Lérida, Espanha), Richard Faust Zentrum (Áustria), Aster (Alta-Savóia, França) e Tierpark Goldau (Suíça).

“Estes novos nascimentos de quebra-ossos fazem parte do êxito da recuperação desta espécie na Andaluzia”, comentou, em comunicado, a conselheira para a Agricultura, Gado, Pesca e Desenvolvimento Sustentável, Carmen Crespo.

No total, o centro de Guadalentín registou nesta temporada de reprodução 16 ovos. Destes nasceram e sobreviveram oito crias de quebra-ossos.

Os nascimentos aconteceram entre 15 de Fevereiro e 21 de Março.

O primeiro a romper a casca do ovo na Andaluzia este ano foi Girón, a única cria de Lázaro e Nava. Ao nascer pesava 155 gramas. Depois chegaram Burón (148,6 gramas) e Atienza (123 gramas), irmãos que nasceram em finais de Fevereiro, fruto da união entre Montero e Nora.

O casal formado por Andalucía e Salvia conseguiram outros dois ovos, dos quais nasceram Niccoló e Lizzie, ambos com cerca de 140 gramas de peso.

No ninho de Tranco e Sabina nasceu Bueno (149,2 gramas).

Os últimos a nascer em Guadalentín em 2022 foram as crias de Elías e Viola, que receberam os nomes de Vitale (160,6 gramas) e Yúfera (161,4 gramas).

“Todas as crias evoluíram correctamente, uma vez que saíram do ovo e foram adoptadas por todos os quebra-ossos adultos aos quais lhes foi confiada uma cria”, explica ainda a Junta da Andaluzia.

Keno está a criar Girón e Niccoló; Lázaro e Nava cuidam de Burón; Elías cuida de Atienza e Bueno; Viola de Vitale; Tranco e Sabina de Yúfera; e Andaluzia e Salvia de Lizzie.

O Centro de Reprodução de Guadalentín, inaugurado em 1996, é gerido pela Vulture Conservation Foundation e está instalado a quase 1.300 metros de altitude, no Parque Natural das serras de Cazorla, Segura e Las Villas.

É um dos centros europeus que está a tentar trazer de volta esta espécie de abutre Em Perigo de extinção ao Velho Continente. Está no centro de um projecto de conservação que quer estabelecer uma população autónoma e estável de quebra-ossos (Gypaetus barbatus) na Andaluzia, de onde se extinguiu há cerca de 50 anos devido aos envenenamentos e à perseguição humana directa. 

A maioria das crias lá nascidas destina-se à liberdade, para reforçar as populações naturais.

O mais ameaçado da Europa

O quebra-ossos (Gypaetus barbatus) é o abutre mais ameaçado da Europa, onde se estima que existam hoje pouco mais de 200 casais, 130 dos quais em Espanha.

Nas últimas décadas, os conservacionistas têm libertado quebra-ossos na natureza para reintroduzir ou reforçar a população desta espécie na Europa. Entre 1986 e 2019 foram libertados 323 quebra-ossos juvenis na natureza, incluindo 227 nos Alpes e nos Pré-Alpes e 63 na Andaluzia.

Em Portugal, a espécie está dada como extinta.

Desde 2008, e pela primeira vez em 100 anos, aves libertadas no âmbito da reintrodução da espécie na Andaluzia têm sido observadas nos céus portugueses, fazendo curtas incursões no nosso país.

Em Março deste ano, Portugal e Espanha deram um novo passo para o regresso do quebra-ossos. Foi apresentado em Navarredonda de Gredos (em Castela-Leão) o projecto LIFE Corredores Ibéricos para o Quebra-ossos para ajudar a espécie a regressar ao Sistema Central, através de um corredor ecológico que vai de Portugal através da Península Ibérica de Este a Oeste.

Portugal irá, então, “proceder ao estudo das condições ecológicas existentes em algumas zonas do Norte do país no sentido de avaliar as condições de uma futura recolonização natural ou artificialmente induzida, com o apoio técnico dos parceiros espanhóis envolvidos no projecto”, adiantou, então, o ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas) à Wilder.

O objectivo, acrescentou, é avaliar “o potencial para a ocorrência regular da espécie e eventual nidificação futura”.


Saiba mais sobre o quebra-ossos:

Como é um quebra-ossos: esta é uma ave com quase três metros de envergadura de asa e até oito quilos de peso. A plumagem pode ser muito escura na sua fase juvenil e tornar-se mais clara com as sucessivas mudas. Mas talvez o que melhor a caracteriza são as barbas escuras perto do bico e o vermelho vivo em redor dos olhos.

Onde nidifica: nas saliências rochosas das grandes cadeias montanhosas.

O que significa o seu nome científico: em Latim, Gyp quer dizer abutre, aetus quer dizer águia e barbatus quer dizer com barba.

Alimenta-se de quê: esta ave é a única do planeta que se alimenta quase exclusivamente de ossos, principalmente de ungulados. Pode chegar a alimentar-se de ossos com 20 centímetros, que digere graças ao seu potente estômago. Quando não os consegue comer inteiros, agarra neles com as suas garras e lança-os de grandes alturas em zonas rochosas para os quebrar.

Quais as maiores populações de quebra-ossos na Europa: esta é uma espécie em perigo de extinção no Velho Continente. As maiores populações são as da cordilheira Pirenaica, da Córsega e Creta. A nível mundial, a União Internacional para a Conservação da Natureza classificou-a como Quase Ameaçada.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.