Angola tem uma nova espécie de sapo

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Uma equipa de investigadores portugueses, angolanos e norte-americanos confirmou uma nova espécie endémica para Angola, o sapinho-das-chuvas-de-Angola (Breviceps ombelanonga).

A origem do nome é uma combinação de duas palavras em Umbundu, língua nativa de Angola: ombela, que significa chuva; e anonga, que quer dizer sapo. 

“Mal começa a chover, [estes animais] aparecem e geralmente gostam de solos arenosos. Usam as patas de trás para se enterrarem e esconderem, tal como o nosso sapo-de-unha-negra”, diz Luís Ceríaco, biólogo curador-chefe do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto e um dos envolvidos na descoberta.

O artigo científico que descreve a espécie foi publicado a 27 de Outubro na revista científica ZooKeys.

Foto: Luís Ceríaco

A investigação não foi simples. Das espécies conhecidas de Angola, recolhidas no século XIX e meados do século XX, sabia-se muito pouco. “Sendo animais muito difíceis, [porque] a sua morfologia [é] muito parecida, as espécies não se conseguiam identificar”, conta Luís Ceríaco. “Uns autores diziam que era uma coisa, outros diziam que era outra”. Os sapos de “cara zangada, pequeninos, redondos, de padrão e coloração pouco variável mesmo dentro da mesma espécie” tinham sido confundidos no passado e classificados como sendo todos da mesma espécie.

Há alguns anos tudo mudou. As cerca de 20 expedições realizadas desde 2013 permitiram a recolha de vários novos exemplares que, juntamente com o levantamento de dados em coleções de Museus de História Natural de África, Europa e América do Norte, permitiram chegar a outras conclusões. “Tivemos acesso a novos caracteres, que no séc. XX não tínhamos. O DNA e a análise de vocalizações fizeram toda a diferença. A partir daí conseguimos resolver esta questão que se arrastava desde o séc. XIX”, explica Luís Ceríaco. 

Estas espécies aparentemente iguais, mas geneticamente distintas são designadas pelos biólogos como crípticas. Ao longo dos anos foram descobertas pelo menos cinco espécies (que ainda aguardam descrição formal), geográfica e morfologicamente próximas, mas que agora se sabe que apenas partilham o mesmo género. A Breviceps ombelanonga pertence exclusivamente a Angola.

Quando se descreve uma nova espécie, destaca-se um exemplar de referência (holótipo) que permite confirmar o que foi referido na descrição. “Normalmente não há nenhuma razão particular para a escolha, é o que estiver disponível e não necessariamente o que tem as características standard”, esclarece Luís Ceríaco. “Se tivermos vários disponíveis tentamos escolher o que estiver em melhor estado e o que tenha também outras características associadas como o material genético, por exemplo”.

O holótipo foi recolhido a 2 de junho de 2016 no Parque Nacional de Quissama, localizado na província de Luanda em Angola. Este parque é um habitat típico do sapinho-das-chuvas-de-Angola, que varia desde vegetação de savana com solos arenosos e boa cobertura de erva, a bosques húmidos de miombo.

Foto: Luís Ceríaco

De tamanho muito reduzido, o sapinho tem um comprimento médio de cerca de 2,6 centímetros. Esta espécie caracteriza-se por ter olhos cor de laranja e pretos (íris e pupila, respetivamente), é manchado de castanho escuro com partes amarelo dourado dos lados. Tem membros superiores e inferiores castanho-acinzentados, dorso cinzento escuro e ventre cinzento claro. Destaca-se a “máscara” negra na face, desde a parte inferior dos olhos até ao queixo.

A nova espécie representa uma linhagem evolutiva distinta, aparentemente isolada geograficamente das outras espécies mais próximas (com o mesmo género). É distinguida das outras pelafalta de marcas pálidas nos flancos, mancha pálida acima do ventre e pequena banda negra abaixo do nariz, para além também do chamamento distinto.

Uma vez que atualmente se encontra amplamente distribuída e abrigada em locais de floresta pristina, ecologicamente intactos e que garantem proteção legal contra a degradação e perda de habitat, os autores sugerem que o estatuto de conservação para a espécie se inclua na categoria de Pouco Preocupante (PP) na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

O objetivo principal dos investigadores envolvidos nesta descoberta é catalogar e descrever a herpetofauna de Angola e, por isso, a equipa irá continuar o projeto, visitando regiões que ainda não foram exploradas e dessa forma acrescentar mais conhecimento científico ao país. Nos próximos dois anos, esperam descrever mais 15 novas espécies.