Flamingos. Foto: Marc Pascual/Pixabay
Flamingos. Foto: Marc Pascual/Pixabay

Anilhagem histórica marca 600 crias de flamingos em lagoa de Fuente de Piedra

Já é tradição. Há 31 anos que centenas de pessoas se juntam para contar as crias dos flamingos (Phoenicopterus roseus) da Reserva Natural Laguna de Fuente de Piedra, em Málaga. Este ano, mais de 600 crias de flamingos foram anilhadas por 475 peritos e voluntários durante o passado fim-de-semana.

 

A lagoa de Fuente de Piedra representa o maior núcleo reprodutor de flamingos do Mediterrâneo ocidental e do Noroeste de África. É a este núcleo que pertence a maioria dos flamingos que podemos observar em Portugal, país onde a espécie não nidifica.

Este ano, 19.000 casais destas aves elegantes nidificaram ali; há pelo menos 10.000 crias, segundo a informação recolhida graças a fotografias aéreas.

Há já 31 anos que, por esta altura do Verão, se realiza a anilhagem das crias que ali nasceram. O objectivo é conhecer melhor a biologia destas aves e usar os dados para conservar melhor esta colónia.

Este ano, um total de 475 pessoas – cientistas, conservacionistas e voluntários – vindas de toda a Espanha participaram na anilhagem, segundo dados da Junta da Andaluzia citados pela agência espanhola EFE.

As crias foram capturadas na madrugada de sexta-feira para sábado. Os voluntários foram encarregados de levar os flamingos para os postos médicos montados na lagoa. Ali, cada ave foi marcada com uma anilha de metal na pata direita e outra de plástico na pata esquerda. As anilhas de plástico permitem identificar as aves à distância, sem ser preciso capturá-las.

Depois foram medidas as asas, o bico e o tarso (parte da pata), registado o peso e recolhidas amostras. Por fim, as aves foram sendo libertadas pelas mãos dos voluntários, que as levavam nos braços e pousavam no chão para as deixar seguir livremente.

Todo este processo demorou cerca de quatro horas.

O flamingo não nidifica em Portugal. No final dos anos 80 foi registada uma tentativa de nidificação nos sapais de Castro Marim, mas sem sucesso. Depois, outro caso de nidificação da espécie foi anunciado em Maio de 2010, na Lagoa dos Salgados, no Algarve, entre os concelhos de Albufeira e Silves. Um observador de aves encontrou dois ninhos e avisou a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea). Depois de a associação lá ter ido, confirmou a nidificação. Mas não houve crias.

Em Portugal, a espécie pode ser observada durante todo o ano nas zonas húmidas litorais desde o estuário do Tejo até ao Algarve. Procura águas pouco profundas ou lamas entre-marés. A maioria dos indivíduos vem das colónias de Espanha, nomeadamente de Fuente Piedra e do Delta do Ebro, e do Sul de França (Camargue). Estima-se que 7.500 flamingos passem o Inverno em Portugal, segundo o livro “Aves de Portugal” (2010). Os locais mais importantes são os estuários do Tejo, do Sado, a Ria Formosa e a Reserva Natural de Castro Marim.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais sobre a Reserva Natural da Lagoa de Fuente de Piedra

Esta área protegida foi criada em 1984 e é a maior zona húmida interior da Andaluzia e uma das maiores de Espanha. Fica a Norte da província de Málaga e estende-se numa zona de olivais e campos de cereal, ao longo de seis quilómetros.

Aqui, a melhor altura para observar os flamingos é durante a Primavera, especialmente às primeiras horas da manhã, segundo a Junta da Andaluzia. Existem vários observatórios de aves que podem ajudar.

Além dos flamingos, outras 170 espécies de aves usam a lagoa para se reproduzir ou para passar o Inverno.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.