Musgo. Foto: Andreas/Pixabay

ANP/WWF: 2020 começou “esperançoso”, mas muitas promessas foram adiadas

A Associação Natureza Portugal (ANP), que está associada à WWF, fez esta terça-feira um balanço sobre os principais pontos positivos e negativos do ano de 2020.

O ano que entra agora na recta final “começou esperançoso para a natureza e a biodiversidade, com um conjunto de decisões importantes para serem tomadas ao longo do ano que iriam definir a direcção futura do panorama ambiental mundial e garantir um compromisso para reverter a perda da natureza”, considerou a directora executiva da ANP/WWF, Ângela Morgado, em conferência de imprensa.

No entanto, devido à pandemia da Covid-19 essas acções foram adiadas, lamentou, atrasando “por mais um ano aquilo que é já uma corrida contra o tempo”. Fique a conhecer este e outros pontos negativos e os eventos positivos de 2020 do ponto de vista da associação portuguesa, quando faltam poucas semanas para a conclusão do ano.

No lado negativo:

1. Efeitos da pandemia

O Covid-19 levou ao “adiamento do super-ano de 2020 com importantes decisões sobre biodiversidade e clima” relegadas para o próximo ano, lembra a organização não governamental, que acredita que a próxima recuperação económica muito provavelmente não será justa justa nem sustentável”.

2. Legislação sobre depósitos minerais

A nova legislação, que continua à espera de ser publicada, vai ter implicações importantes para os projectos de exploração mineira no meio marinho. “Tudo indica que a mineração em mar profundo foi excluída deste diploma, mas continuamos a temer que seja permitida mineração nas nossas áreas protegidas”, avisa a organização não governamental.

3. Adiado fim do plástico de uso único nos restaurantes

O Governo português tinha-se comprometido a antecipar para 2020 a entrada em vigor da Directiva sobre Plásticos de Uso Único, que levaria à eliminação de embalagens e outros materiais descartáveis em restaurantes. No entanto, “à boleia da pandemia” isso acabou por ser adiado, conduzindo a um agravamento desta situação.

4. Falta de transparência em Portugal sobre nova Política Agrícola Comum

O desenho do plano estratégico para a nova Política Agrícola Comum (2023-2027), que terá de ser apresentado por cada Estado-membro, tem sido em Portugal um processo “pouco transparente e sem consultas adequadas”, critica a ANP/WWF. A associação exemplifica com a consulta pública recentemente lançada, que limita a um mês e meio – incluindo Natal e Ano Novo – a recolha de pareceres sobre “um documento com mais de 2.000 páginas.” “A pandemia não explica tudo”, sublinham.

5. Plano de Recuperação e Resiliência nas mãos de uma só pessoa

A associação considera que a elaboração do Plano de Recuperação e Resiliência de Portugal deveria ter sido entregue a um conselho de especialistas, como aconteceu noutros países, em vez de ficar nas mãos de apenas uma pessoa. Apesar de registar “como positivo o genuíno interesse do autor do PPR” em ouvir as organizações de defesa do ambiente, a ANP/WWF defende que a iniciativa deveria ter partido do próprio Governo. Não se sabe também como foram incorporados os mais de 1000 contributos recebidos na consulta pública no documento que seguiu para Bruxelas.

Foto: Joana Bourgard

Quanto aos aspectos positivos do ano que passou, são estes os pontos destacados por Ângela Morgado, directora executiva, e por Catarina Grilo, directora de conservação e políticas da associação:

1. Lançamento do Programa de Transformação da Paisagem

O novo Programa de Transformação da Paisagem foi lançado em Junho passado pelo Governo. Em causa, considera a ONG, está “uma iniciativa sem precedentes que é essencial para mudar a paisagem para ser mais resiliente aos fogos, mais protectora da natureza, e geradora de dinamismo económico”. 

2. Co-gestão das pescas

O novo quadro legal para a co-gestão das pescas, que junta Governo, pescadores e cientistas na tomada de decisões a nível local, foi publicado em Setembro. Vem dar força a um projecto de co-gestão para a apanha de percebes nas Berlengas, lançado pela ANP/WWF há alguns anos, e a novos projectos semelhantes.

3. Declarações do ministro do Mar sobre moratória no mar profundo

Foi em Setembro passado que o ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, declarou publicamente que é a favor de uma moratória para a mineração em mar profundo. Mais tarde, numa entrevista, explicou que defende um prazo de 10 a 20 anos, pedindo cautelas perante a possibilidade de uma corrida aos minérios. “Gostaríamos que [essa preocupação] fosse partilhada pelo governo e concretizada legalmente”, afirma a associação.

4. Sucesso na consulta pública sobre desflorestação

Bruxelas lançou uma consulta pública sobre a diminuição da desflorestação e degradação florestal que conta já com mais de um milhão de participações. Quanto ao Parlamento Europeu votou a favor da adopção de uma nova lei europeia “ambiciosa” de combate à desflorestação, conversão de outros ecossistemas e violação de direitos humanos. 

5. Lançamento da Estratégia do Prado ao Prato

Depois do lançamento em dezembro de 2019 do Pacto Ecológico Europeu, a Comissão Europeia lançou este ano a Estratégia Do Prado ao Prato, com o objetivo de tornar os sistemas alimentares mais saudáveis e sustentáveis, e também a Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030, para proteger e recuperar habitats e espécies. 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.