Castor-europeu (Castor fiber). Foto: Philipp Blank/Wiki Commons

Anunciada reintrodução de castores no Sul de Inglaterra

Na próxima Primavera serão libertados castores (Castor fiber) em duas zonas do Sul de Inglaterra para ajudar a travar inundações e a melhorar a biodiversidade, anunciou hoje a organização britânica The National Trust.

Os castores já foram parte crucial dos ecossistemas em Inglaterra. Mas, no século XVI foram caçados até à extinção por causa da caça pelo seu pêlo, carne e e secreções glandulares.

Em Portugal, os castores tiveram um fim semelhante, entre os séculos XV e XVI.

Estas reintroduções – aprovadas pelo Governo britânico, mais concretamente pela Natural England – vão libertar dois casais destes mamíferos, um numa área vedada de floresta em Holnicote, em Somerset, e outro em Valewood, em South Downs.

“O nosso objectivo é que os castores se tornem uma parte importante da ecologia em Holnicote, desenvolvendo processos naturais e contribuindo para a saúde e riqueza da vida selvagem na área”, explicou, em comunicado, Ben Eardley, gestor do projecto na National Trust.

“A sua presença nas nossas bacias hidrográficas é uma forma sustentável de ajudar a tornar a nossa paisagem mais resiliente às alterações climáticas e aos fenómenos climatéricos extremos que elas trarão”, acrescentou.

Estes dois casais de castores são a Fase 0 do projecto, no âmbito do projecto Riverlands do National Trust que está a recuperar os processos naturais em determinadas bacias hidrográficas. “Eles poderão ajudar-nos a conseguir um fluxo de água mais natural, abrandando, limpando e armazenando água e criando habitats ribeirinhos mais complexos.”

Isto devido às pequenas represas que os castores criam. “Essas represas vão manter água nos períodos secos, ajudar a travar as inundações mais a jusante, reduzir a erosão e melhorar a qualidade da água”, explicou ainda Ben Eardley.

Os castores são “engenheiros da natureza e podem criar habitats fantásticos que beneficiam inúmeras outras espécies, desde os ratos de água, às aves aquáticas, libélulas e invertebrados aquáticos”, salientou David Elliott, do National Trust em South Downs. “Por sua vez, estas espécies ajudam a manter populações reprodutoras de peixes e aves que se alimentam de insectos, como o papa-moscas-cinzento (Muscicapa striata).”

Esta reintrodução será acompanhada de perto por equipas de especialistas, entre os quais investigadores da Universidade de Exeter, para registar alterações ecológicas e hidrológicas no habitat.

Nos próximos meses, os peritos do National Trust estarão a preparar ambos os locais de reintrodução, para tornar os habitats mais “amigos dos castores” quando a Primavera chegar.

“Segundo o recente relatório sobre o Estado da Natureza que a vida selvagem está em declínio”, disse Mark Harold, director do programa Land and Nature do National Trust.

“Precisamos fazer mais e precisamos incentivar e apoiar quem queira fazer a sua parte.”

Até 2025, o National Trust tem como objectivo recuperar 25.000 hectares de habitats ricos em vida selvagem. A reintrodução de castores faz parte deste trabalho.

Em Fevereiro de 2016, cientistas da Universidade de Stirling concluíram que os castores estão a ajudar a recuperar rios e a travar picos de cheia.

Mais de um ano depois, em Outubro de 2017, a Escócia anunciou a reintrodução de 28 castores na Floresta Knapdale para promover o reforço populacional desta espécie.

Os castores eram nativos na Escócia até serem caçados até à extinção no século XVI. Na última década, dezenas de castores com origem norueguesa foram libertados na natureza de forma ilegal ou escaparam de propriedades privadas e hoje existem duas populações de castores, ambas na Escócia, mais concretamente em Argyll e Tayside.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.