Aprovada protecção sem precedentes para tubarões na COP19 da CITES

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A 19ª Conferência Mundial sobre Vida Silvestre (COP19 CITES) terminou na sexta-feira, 25 de Novembro, no Panamá, com governos de 160 países a acordarem nova protecção para mais 500 espécies ameaçadas pelo comércio internacional, incluindo medidas sem precedentes para tubarões e raias.

Entre os resultados da reunião, que começou a 14 de Novembro e reuniu cerca de 2.500 pessoas de mais de 160 países, estão novos controlos sem precedentes ao comércio de barbatanas de tubarão e maior protecção para muitas espécies apanhadas no comércio internacional de animais exóticos como rãs de vidro e tartarugas.

“Mais de um milhão de espécies estão em risco de extinção se não mudarmos a forma como tratamos a vida selvagem”, disse, em comunicado, Matthew Collis, vice-presidente do IFAW (Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal).

“Os governos na CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens) mostraram que estão a começar a aperceber-se da dimensão do desafio exigido para enfrentar a crise que o mundo natural enfrenta. A sobre-exploração das espécies, incluindo através do comércio internacional, é um factor crucial para o declínio de muitas espécies”, acrescentou.

A reunião – onde se debateram propostas de alteração aos anexos I, II e III da CITES – aprovou 46 das 52 propostas apresentadas. Assim conseguiu-se reforçar a protecção de mais de 500 novas espécies de tubarões, lagartixas, tartarugas, peixes, aves, rãs e árvores, através da regulação do comércio internacional, destacou o Ministério do Ambiente do Panamá.

A protecção de 66 espécies de tubarões e de raias e da rã de vidro foram as propostas mais destacadas. “Isso foi um grande sucesso porque o grupo de animais mais ameaçado pelas alterações climáticas são os anfíbios, logo seguidos dos tubarões e das raias”, disse à agência de notícias EFE Joaquín de la Torre, director regional para a América Latina do IFAW.

Segundo o IFAW, cerca de 100 espécies de tubarões e de raias foram adicionadas ao Anexo II da CITES para controlar o comércio mundial insustentável das suas barbatanas e carne, um comércio que levou alguns destes animais até à beira da extinção. Isto significa que agora quase todas as espécies de tubarões comercializadas internacionalmente estão sob o controlo da CITES, ou seja, só pode haver comércio legal e sustentável destes animais.

No Anexo II da CITES estão as espécies que, não estando necessariamente ameaçadas de extinção, poderão passar a estar se o seu comércio não for controlado.

Esta reunião também ratificou a adopção das propostas de inclusão no Anexo II das rãs de vidro (rãs com pele semi-transparente, através da qual podemos ver o seu esqueleto, intestinos e coração), muito procuradas por coleccionadores de animais exóticos.

Uma análise aos registos de importação referentes aos Estados Unidos, revela que entre 2016 e 2021 as importações de rãs de vidro aumentaram de 13 indivíduos vivos em 2016 para 5.744 indivíduos em 2021.

De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), 50% das espécies de rãs de vidro avaliadas pela Lista Vermelha estão Em Perigo de extinção, com 10 espécies classificadas como Criticamente Em Perigo, 28 como Em Perigo e 21 como Vulneráveis.

Também houve boas notícias para elefantes e rinocerontes, uma vez que os governos membros da CITES voltaram a rejeitar propostas para reabrir o comércio internacional de marfim e corno de rinoceronte. “Tornou-se claro que não há vontade de reabrir estes comércios perigosos. Em vez disso, a comunidade internacional deve encontrar novas formas para gerar receitas para a conservação, sem expor os animais a serem caçados”, comentou Matthew Collis.

A CITES é um acordo internacional entre 184 países e também a União Europeia (UE) que se reúne a cada três anos. Assinada em Washington D.C. a 3 de Março de 1973 e em vigor desde 1 de Julho de 1975, actualmente oferece protecção a mais de 38.000 espécies por todo o mundo. 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.