O sisão é uma das espécies que poderão ser mais afectadas pela construção da barragem, afirma a C6. Foto: Pierre Dalous/Wiki Commons

Arranca hoje conferência da ONU dedicada às espécies migradoras

A 13ª Conferência das Partes (COP13) da Convenção para as Espécies Migradoras de Animais Selvagens, em Gandhinagar (Índia) vai debater a integração de 10 novas espécies, incluindo o sisão-europeu.

 

Na COP13, que terminará a 22 de Fevereiro, serão tomadas decisões sobre como melhor proteger as espécies migradoras num mundo em rápida mudança.

Entre elas está a integração de 10 novas espécies a ser protegidas pela Convenção para as Espécies Migradoras (CMS, sigla em inglês), incluindo o elefante asiático, o jaguar, o sisão europeu, a abetarda indiana e o tubarão de ponta branca oceânico.

A proposta do sisão-europeu foi apresentada pela União Europeia, por iniciativa do Governo espanhol. “O sisão-europeu é uma espécie ligada a meios agrícolas que sofreu uma regressão significativa devido à intensificação da agricultura e à supressão de algumas práticas tradicionais”, segundo o Ministério espanhol para a Transição Ecológica e Desafio Demográfico, citado pela agência de notícias Europa Press.

Além disso serão propostos planos de conservação para 14 espécies, a implementar entre 2021 e 2023, e será defendida a necessidade de iniciativas para combater o abate ilegal de aves migradoras. Só na região do Mediterrâneo estima-se que por ano sejam mortas 25 milhões de aves. Esta é a segunda maior ameaça à conservação das aves migradoras depois da perda de habitat, segundo a ONU.

O planeta arrisca-se a perder um milhão de espécies, incluindo espécies migradoras, se nada for feito, alertou em Maio do ano passado um relatório do Painel Intergovernamental sobre a Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas (IPBES). Segundo a ONU, as espécies migradoras têm inúmeros benefícios para os humanos, incluindo a dispersão de sementes, a polinização, o controlo de pragas e até o turismo.

“Numa altura em que enfrentamos uma crise sem precedentes de perda de espécies, 2020 é um ano importante para fazermos mais na conservação das espécies e dos ecossistemas e para avançarmos na direcção do desenvolvimento sustentável”, disse Joyce Msuya, directora-executiva do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA). “Precisamos aproveitar cada oportunidade e esta COP é um marco crítico para permitir à biodiversidade florescer neste planeta”, acrescentou.

Um novo relatório que será apresentado durante a COP13 indica que, apesar de alguns casos de sucesso, as populações da maioria das espécies migradoras incluídas na Convenção está em declínio.

“A COP13 acontece num momento crítico para a conservação da vida selvagem, com tendências continuadas para a perda de habitats e declínio de espécies”, comentou, em comunicado, Amy Fraenkel, secretária-executiva da Convenção para as Espécies Migradoras. “A conferência vai acionar medidas necessárias para proteger melhor as espécies migradoras que dependem de cooperação multilateral para sobreviver.”

Esta conferência inaugura o “super ano” para a natureza, que irá incluir uma cimeira da ONU em Setembro e culminará com a Conferência da ONU para a Diversidade Biológica em Outubro na China, onde será adoptada a nova estratégia mundial para a próxima década, pós-2020.

A grande prioridade da Convenção para as Espécies Migradoras para essa estratégia é o conceito de “conectividade ecológica” e o apelo para a protecção e restauro de áreas geográficas importantes que, juntas, suportam as espécies migradoras durante as diferentes fases dos seus ciclos de vida, como a reprodução e a alimentação.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.