Atum. Foto: Danilo Cedrone/FAO

Atum ameaçado vendido por recorde de 2,7 milhões de euros

Um atum-rabilho, espécie ameaçada de extinção, foi vendido no sábado no leilão do Ano Novo do mercado de peixe de Tóquio, no Japão, ao dono de uma cadeia de restaurantes de sushi.

 

O atum pesava 278 quilos e tinha sido pescado ao largo da região de Aomori, na costa Norte do Japão.

Kiyoshi Kimura, dono da cadeia de restaurantes Sushizanmai, pagou 2,7 milhões de euros pelo atum, quase o dobro do que tinha pago há seis anos, noticiou anteontem a agência Reuters. “O atum parece tão delicioso e tão fresco, mas acho que fui longe de mais”, comentou Kimura aos jornalistas, após o leilão. Segundo a Reuters, Kimura terá acabado por pagar cinco vezes mais do que inicialmente previra.

O leilão aconteceu a 5 de Janeiro e foi o primeiro realizado no novo mercado de peixe de Tóquio, Toyosu, depois do famoso Tsukiji ter sido encerrado no ano passado.

Normalmente, um peixe com um peso semelhante seria vendido por cerca de 52 mil euros. O recorde atingido anteontem é, em parte, explicado pela preocupante escassez de atum-rabilho no Pacífico (Thunnus orientalis). Segundo a BBC News, “as capturas de 2018 ao largo da costa do Japão diminuíram significativamente e desde meados do ano passado os preços em Tóquio subiram mais de 40%”.

Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), o preço do atum-rabilho do Pacífico no leilão anual do mercado de peixe de Tóquio, um evento feito para gerar publicidade, tem aumentado substancialmente todos os anos: 347.000 euros, 341 quilos (2011), 644.000 euros, 269 quilos (2012) e 1.579.000 euros, 222 quilos (2013), por exemplo.

Actualmente, as populações de atum-rabilho do Atlântico (Thunnus thynnus), classificadas como Em Perigo de extinção pela UICN, estão numa situação mais preocupante do que as populações do Pacífico, classificadas como Vulneráveis. Ainda assim, peritos citados pelo jornal britânico The Guardian avisam que os stocks de atum-rabilho do Pacífico registaram uma diminuição de 96% em relação aos níveis pré-industriais.

“A celebração que é feita por causa do leilão anual do atum-rabilho do Pacífico esconde o quão preocupante é a situação desta espécie”, disse ao The Guardian Jamie Gibbon, dos Pew Charitable Trusts.

A sobre-pesca é a maior ameaça a este animal. Os países que mais capturam atum-rabilho do Pacífico são o Japão, México, Estados Unidos, Coreia do Sul e China.

O atum-rabilho do Pacífico, que vive a cerca de 550 metros de profundidade no oceano, alimenta-se de pequenos peixes, lulas e caranguejos. Estima-se que viva pelo menos 15 anos, podendo chegar aos 26 anos. Começa a reproduzir-se entre os três e os cinco anos de idade. Segundo a UICN, estima-se que apenas 0,15% dos atuns cheguem aos 20 anos de idade.

Segundo a UICN, desde os anos 1950, a captura de atum-rabilho do Pacífico tem sido predominantemente composta por peixes juvenis e desde os anos 1990, a captura de animais com menos de um ano de idade tem aumentado significativamente.

O recorde para a captura do maior atum-rabilho do Pacífico vai para um peixe com 411.6 quilos capturado ao largo da Nova Zelândia em 2014.

 

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.