Foto: António Rivas/Programa de Conservación Ex-situ

Aumento de linces? Há menos raposas e sacarrabos e mais coelhos

Uma equipa de investigadores em Espanha estudou a influência da recuperação das populações de lince-ibérico sobre outros predadores e presas que convivem com este felino.

Concluíram que o aumento do número de linces-ibéricos (Lynx pardinus) resultou na redução de predadores de médio porte como a raposa e o sacarrabos, num estudo agora publicado pela revista Biological Conservation, liderado por cientistas do Instituto de Investigação em Recursos Cinegéticos (IIRC, ligado ao Conselho Superior de Investigações Científicas, CSIC).

A reintrodução de lince-ibérico em Espanha e Portugal está ligada ao programa LIFE Iberlince, que entre 2011 e 2018 trabalhou com o objectivo de estabelecer populações viáveis da espécie na Península Ibérica. Graças ao projecto, este felino deixou de ser considerado Em Perigo Crítico de extinção em 2015, ficando ainda assim Em Perigo.

Ao longo de três anos, a equipa de cientistas analisou os efeitos da reintrodução do lince-ibérico no vale de Matachel, região de Badajoz, na Extremadura. Descobriu que a recuperação destes felinos traduziu-se numa diminuição de cerca de 80% da quantidade de raposas e sacarrabos.

Mais concretamente, indica um comunicado do CSIC, o estabelecimento de um macho e uma fêmea de lince no território, juntamente com as suas crias, terá levado ao “desaparecimento de 19 raposas, 11 sacarrabos, 3 fuinhas e 1 gato assilvestrado (gato doméstico que se tinha tornado selvagem)”.

Curiosamente, isso teve como contrapartida a recuperação das populações de coelhos e de perdizes na zona, apesar do coelho ser normalmente apontado como a principal presa do lince-ibérico. De acordo com o estudo, “a redução do consumo de coelho pela comunidade de carnívoros estimou-se em 55,6%.”

“Estas investigações mostram um impacto positivo das reintroduções, não só no estatuto de conservação do lince, mas também na sua funcionalidade ecológica”, sublinha José Jimenéz, autor principal do novo estudo e investigador ligado ao IIRC.

Os últimos números divulgados sobre a população de linces-ibéricos apontam para cerca de 650 indivíduos em toda a Península Ibérica. Desse total, mais de 40 estarão actualmente em Portugal.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.