baleia-piloto com cabeça fora da água
Baleia-piloto. Foto: Barney Moss/Wiki Commons

Austrália: Porque está a acontecer o arrojamento de centenas de baleias-piloto?

Desde segunda-feira que morreram cerca de 380 baleias-piloto devido a arrojamentos colectivos na ilha australiana da Tasmânia, junto à costa sul do país.

As autoridades acreditam que este é o maior arrojamento de que há registo na costa australiana, onde foram contadas no total 470 baleias-piloto encalhadas em bancos de areia, em redor de uma área da Tasmânia conhecida por Macquarie Heads.

Um primeiro grupo de 270 animais tinham sido encontrados segunda-feira, mas no dia seguinte outras 200 baleias-piloto – estas já mortas – foram avistadas a partir de um helicóptero.

O recorde anterior tinha sido registado em 1996, quando ocorreu um arrojamento de 320 destes animais na Austrália Ocidental.

Desta vez, uma equipa liderada pelo Programa de Conservação Marinha do governo da Tasmânia, com a ajuda de equipamentos e de barcos, conseguiu puxar cerca de 50 dos animais de forma a ficarem totalmente na água. Estavam a tentar salvar ainda outros 30 que permaneciam vivos, mas as autoridades começam a preocupar-se sobre a forma como irão lidar com as centenas de baleias-piloto que já morreram.

Apesar do nome, as baleias-piloto pertencem ao grupo dos golfinhos, sendo animais altamente sociáveis. Podem viver até aos 40 anos e atingem um comprimento de sete metros. Pesam até três toneladas.

Resultado? Quando ficam presas na areia, além de ficarem cada vez mais cansadas e desnutridas, correm o risco de ser lentamente esmagadas pelo seu próprio peso, explicou um especialista nestes animais, citado pela BBC.

As baleias-piloto são conhecidas por serem muitas vezes vítimas de arrojamentos colectivos, como o que aconteceu há quase dois anos na Nova Zelândia. Por serem animais tão sociáveis e que vivem em grupo muito próximos e em comunicação constante, basta um elemento desorientar-se e seguir em direcção à costa para muitos outros o seguirem.

A área de Macquarie Heads, na Tasmânia, é conhecida pela ocorrência regular de arrojamentos colectivos. Os cientistas acreditam que estes fenómenos podem estar relacionados com o relevo do litoral, que pode dificultar o funcionamento dos sistemas de eco-localização que estes mamíferos marinhos usam para se orientarem.

Mas existem outras teorias. Há investigadores que ligam estes arrojamentos à passagem de embarcações com sonares ou a sonares militares, que produzem sons muito altos no interior das águas e podem estar a desorientar esse animais. O fenómeno pode também dever-se à pesquisa sísmica de petróleo e gás ou a operações de dragagem no fundo do mar.


Saiba mais.

As baleias-piloto dividem-se em duas espécies: baleia-piloto (Globicephala melas) e baleia-piloto-tropical (Globicephala macrorhynchus). Estes animais ocorrem também em Portugal, onde se observa com relativa frequência a baleia-piloto (Globicephala melas).

Recorde como identificar esta e outras seis espécies de cetáceos que pode observar junto à costa portuguesa, neste artigo da Wilder.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.