Gorila-da-montanha. Foto: Sharp Photography/Wiki Commons

Baleia-comum e gorila de montanha já não estão tão em perigo de extinção

Graças aos esforços conservacionistas, a baleia-comum e o gorila de montanha deixaram de estar tão ameaçados de extinção, segundo a mais recente actualização da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), publicada hoje.

 

O estatuto de conservação da baleia-comum (Balaenoptera physalus) melhorou de Em Perigo para Vulnerável, depois das proibições da caça à baleia.

Já a subespécie gorila-das-montanhas (Gorilla beringei beringei) passou de Criticamente Em Perigo para Em Perigo, graças a esforços de conservação concertados.

Com esta actualização, a Lista Vermelha da UICN inclui agora um total de 96.951 espécies. Destas, 26.840 estão ameaçadas de extinção.

Inger Andersen, directora geral da UICN, considera que esta nova lista “mostra o poder das medidas de conservação, com as recuperações que estamos a ver da baleia-comum e do gorila-das-montanhas”.

“Estes sucessos de conservação são uma prova de que os ambiciosos esforços de colaboração dos Governos, empresas e sociedade civil podem reverter a tendência de perda de espécies”, acrescentou Andersen, em comunicado.

Por exemplo, a população de baleia-comum quase duplicou desde a década de 1970 e a sua população mundial chega hoje aos cerca de 100.000 indivíduos adultos. Segundo a UICN, esta recuperação deve-se às proibições internacionais sobre a caça comercial de baleias no Pacífico Norte e no Hemisfério Sul, em vigor desde 1976, assim como reduções nas capturas no Atlântico Norte desde 1990.

O estatuto da sub-população ocidental da baleia-cinzenta (Eschrichtius robustus) também melhorou, passando de Criticamente Em Perigo para Em Perigo. Desde 1980 que estas baleias têm sido protegidas da caça comercial em quase todos os países da sua área de distribuição.

“As populações de baleia-comum e de baleia-cinzenta foram severamente reduzidas pela caça e é um alívio poder ver, finalmente, uma subida destas populações”, comentou Randall Reeves, presidente do Grupo de Especialistas em Cetáceos da UICN. Ainda assim, advertiu, “os esforços de conservação devem continuar até que as populações já não estejam ameaçadas”.

Esta nova lista vermelha também traz esperança para o gorila-das-montanhas, uma das duas subespécies de gorila oriental (Gorilla beringei), espécie que continua Criticamente Em Perigo. Em 2008, ano da avaliação anterior, estimava-se que existiam cerca de 680 gorilas-das-montanhas; uma década depois serão mais de 1.000, o número mais alto registado para esta subespécie. Isto deve-se, por exemplo, às patrulhas contra a caça furtiva e a eliminação de armadilhas.

O habitat do gorila-das-montanhas limita-se a áreas protegidas que cobrem cerca de 792 quilómetros quadrados em dois lugares da República Democrática do Congo, Ruanda e Uganda: o maciço das Virungas e a região de Bwindi-Sarambwe. Ambos os lugares estão rodeados por terras usadas intensivamente para a agricultura por uma população humana cada vez maior. As ameaças continuam a ser importantes, incluindo a caça furtiva, conflitos civis e doenças introduzidas pelo homem, desde infecções respiratórias ao Ébola.

“Se é verdade que é uma notícia fantástica que as populações de gorila-das-montanhas estejam a aumentar, esta subespécie continua em perigo. Por isso, os esforços de conservação devem continuar”, disse Liz Williamson, do Grupo de Especialistas em Primatas da UICN.

 

Peixes, árvores e as espécies em declínio

Esta lista vermelha mostra que há 54 espécies de peixes ameaçadas pela sobre-pesca.

A UICN destaca a situação do Lago Malawi, onde 9% das 458 espécies de peixes avaliadas têm um elevado risco de extinção, o que causa preocupação por causa da segurança alimentar na região. Três das quatro espécies de tilápia (Oreochromis karongae, Oreochromis squamipinnis, Oreochromis lidole) – o peixe mais valioso economicamente no Malawi, estão Criticamente Em Perigo de extinção. Na verdade, as pescas destes peixes estão hoje à beira do colapso no Malawi. Mais de um terço dos habitantes do país depende do lago Malawi, o terceiro maior lago de África, para a sua alimentação e sustento.

Também não há boas notícias para as garoupas. Das 167 espécies, 13% estão ameaçadas pela pesca excessiva. As comunidades locais dos países tropicais e sub-tropicais em desenvolvimento estão particularmente afectadas.

O mero-crioulo (Epinephelus striatus) está mais ameaçado do que se pensava anteriormente, passando de Em Perigo para Criticamente Em Perigo.

“O esgotamento das populações de peixes é uma grande preocupação para a segurança alimentar, em especial para as comunidades costeiras dos países em desenvolvimento”, comentou Yvonne Sadovy, co-presidente do Grupo de Especialistas em Garoupas e Bodiões da UICN.

“A diminuição das espécies afecta, significativamente, o preço do pescado em todo o mundo e reduz a segurança alimentar para milhões de pessoas que dependem da pesca de pequena escala e de subsistência para sobreviver”, acrescentou.

Outra espécie destacada pela UICN é o pau-rosa-africano (Pterocarpus erinaceus), uma árvore de importância mundial por causa da sua madeira. Esta espécie entra para a lista vermelha para a categoria Em Perigo, por causa do abate excessivo para satisfazer a crescente procura por esta madeira.

Originária da África ocidental e central, a madeira de cor rosa escuro desta árvore é utilizada em todo o mundo para fazer móveis, utensílios domésticos ou para pavimentar chão. Entre 2009 e 2014, o comércio de madeira de pau-rosa-africano multiplicou-se por 15 para satisfazer a alta procura na China.

“Menos de 2% dos bosques nativos desta árvore estão protegidos e grande parte do seu habitat está em zonas de conflito, onde a conservação não é uma prioridade”, disse Sara Oldfield, co-presidente do Grupo de Especialistas de Plantas da UICN. Na sua opinião é necessário “aumentar as áreas protegidas para conservar esta espécie”.

Esta árvore representa a situação preocupante de muitas outras espécies selvagens um pouco por todo o mundo. “Precisamos, urgentemente, que se reforça e se apoie uma acção efectiva de conservação”, defendeu Inger Andersen. “A cimeira da ONU sobre Biodiversidade, no Egipto, é uma valiosa oportunidade para uma acção decisiva para proteger a diversidade da vida no nosso planeta”. A cimeira, de 17 a 29 de Novembro reúne no Egipto líderes mundiais para debater o futuro da biodiversidade e da conservação depois de 2020.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.