Lobo-ibérico. Foto: Arturo de Frias Marques/Wiki Commons

BE questiona ministro sobre morte de dois lobos em Montalegre e Bragança

O Bloco de Esquerda (BE) quer saber o que vai fazer o Governo para dissuadir a caça furtiva no Parque Nacional da Peneda-Gerês e pede que se apurem responsabilidades.

As perguntas enviadas ao Governo, dirigidas ao ministro do Ambiente e da Acção Climática, João Pedro Matos Fernandes, surgem depois de terem sido encontrados, esta semana, os cadáveres de dois lobos-ibéricos (Canis lupus signatus) nas regiões de Montalegre e Bragança.

O lobo-ibérico é uma espécie protegida em Portugal desde 1988 e está classificado como Em Perigo de extinção pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005).

Um dos cadáveres de lobo foi encontrado perto da aldeia de Xertelo, na freguesia de Cabril, junto a uma carcaça de cavalo garrano que poderá ter servido de isco para atrair lobos. O garrano estava cercado por seis laços (armadilhas proibidas usadas por caçadores furtivos para apanhar animais selvagens). Segundo o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), o outro cadáver de lobo foi encontrado na zona de Rio de Onor, no concelho de Bragança.

Equipas do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR e de Vigilantes da Natureza desencadearam um conjunto de ações de investigação no local.

Ontem, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda (BE) questionou o Governo sobre este caso, exigindo “que se averiguem as causas da morte dos animais e que se apurem todas as responsabilidades”, segundo um comunicado enviado à Wilder.

“O lobo-ibérico continua a ser alvo de perseguição em Portugal, registando-se abates destes animais todos os anos, frequentemente mortos a tiro ou vítimas de armadilhas ilegais”, salienta o BE.

Por isso, o Grupo Parlamentar do BE pergunta ao ministro quantos lobos-ibéricos mortos foram encontrados pelas autoridades nos últimos cinco anos, quais as causas de morte apuradas e em que concelhos foram encontrados os animais.

Em relação aos lobos encontrados mortos esta semana, o Grupo Parlamentar pede mais informações, nomeadamente se foram encontrados outros cadáveres de animais selvagens no local e quais as principais conclusões das necropsias realizadas aos lobos.

Além disso, pergunta ainda ao Governo quais os procedimentos em curso para identificar o(s) autor(es) da instalação das armadilhas e dos abates e se os laços já foram analisados.

O lobo-ibérico é o único membro que resta da família dos grandes predadores de Portugal.

Até aos anos 30 do século XX, esta espécie distribuía-se por todo o país, até ao Algarve. Mas, com o passar dos anos, o lobo foi sendo empurrado, concentrando-se hoje em núcleos no Alto Minho, Trás-os-Montes e numa região a Sul do Douro.

O mais recente censo nacional ao lobo-ibérico, de 2002/2003, identificou 63 alcateias (51 confirmadas e 12 prováveis) no Norte e Centro do país. A população foi, então, estimada entre 220 e 430 animais. Mais tarde, estudos compilados entre 2003 e 2014 deram conta da existência de 47 alcateias (41 confirmadas e seis prováveis).

O BE entende que as entidades competentes em matéria de vigilância e fiscalização das áreas protegidas devem ser dotadas dos “meios humanos, técnicos e financeiros suficientes para poderem dissuadir com eficácia práticas ilegais que atentam contra a vida selvagem”.

Na carta enviada ao Governo, o Grupo Parlamentar do BE quer saber quantos Vigilantes da Natureza estão destacados para o Parque Natural da Peneda-Gerês e quantos para o Parque Natural do Montesinho. E se o Governo considera “que o número de Vigilantes da Natureza destacados (…) é suficiente para vigiar toda a extensão daquelas áreas protegidas”.

O ministro do Ambiente é ainda questionado sobre que medidas serão tomadas para “dissuadir a caça furtiva e evitar que sejam instaladas armadilhas no Parque Natural da Peneda-Gerês, Parque Natural do Montesinho e demais áreas sensíveis do território nacional”.

 


Saiba mais.

Recorde aqui a crónica de Miguel Dantas da Gama sobre a nossa relação com o lobo-ibérico.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.