Flamingos numa das colónias em Portugal. Foto: Agostinho Gomes

Boas notícias: Os flamingos estão pela primeira vez a nidificar em Portugal

O anúncio foi feito pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, na altura em que se comemora o Dia Internacional da Biodiversidade, a 22 de Maio.

“Este ano, e pela primeira vez, existem duas colónias de flamingos a nidificar em duas Áreas Protegidas sob a gestão do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), onde se estima um valor considerável de ninhos nas duas colónias”, anuncia a entidade que tutela a conservação da natureza em Portugal, num comunicado enviado à Wilder. “Contamos, muito em breve, com a chegada dos primeiros juvenis nascidos em território português.” 

Parada pré-nupcial de flamingos numa das colónias em Portugal. Filme: Agostinho Gomes

“Pela sensibilidade do momento, é importante lembrar a importância de não perturbar as áreas escolhidas por esta espécie para nidificar. Em breve os ovos vão eclodir e será possível acompanhar o crescimento dos pequenos flamingos”, acrescenta o ICNF. 

A população de flamingos tem vindo a aumentar nos últimos anos, “inclusive em muitas zonas húmidas onde antes era pouco observada.” Com efeito, já em 2017, havia notícia de que nunca se tinham contado tantas aves desta espécie no Estuário do Tejo, onde nesse ano se estimavam 12.000 indivíduos.

Na área do Mediterrâneo, são conhecidos diversos locais onde estas aves nidificam – Grécia, Tunísia, Itália, França (Camargue), Espanha (Doñana e Fonte de Piedra). É desses locais que milhares de flamingos voam para Portugal quando chegam os meses mais frios, em busca de alimento.

Devido ao crescimento dos números em território nacional, havia algumas expectativas quanto à reprodução destas aves de tons rosados. Em 2010 tinha aliás havido uma primeira tentativa de nidificação, mas sem sucesso.

Porquê agora?

“As razões científicas para que a situação se alterasse ainda não são conhecidas”, adianta o instituto. Para já, o que se notou foi “um aumento das áreas de alimentação e repouso desta espécie em Portugal, acompanhado pela diminuição da atividade humana devida às restrições impostas pela pandemia da Covid-19.” Isto com base na observação feita pelos vigilantes da natureza e pelos técnicos do Centro de Estudos de Migrações e Proteção de Aves, do ICNF.

Por outro lado, locais como Camargue, em França, e Fonte de Piedra, em Espanha, que são importantes locais de nidificação e juntam milhares de flamingos, têm sentido os efeitos da seca desde há vários anos. 

“Os riscos mistos, de componente ambiental, associam-se a fenómenos potencialmente perigosos com causas combinadas, incluindo-se neste conjunto os incêndios florestais, contaminação de aquíferos e a consequente degradação dos habitats”, indica a mesma entidade. 

Face à falta de condições ecológicas e de espaço suficiente nos locais onde costumam reproduzir-se, estas aves foram em busca de outros locais que lhes permitam alimentar-se, nidificar e reproduzir-se, notam os responsáveis do ICNF. “Como sucede em Portugal, onde existem áreas ricas em alimento.”


Saiba mais.

Descubra onde e em que alturas do ano é possível observar flamingos, no portal Aves de Portugal.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.