No Brasil perderam-se 24 árvores por cada segundo em 2020

Floresta Amazónica. Foto: Rosa Maria/Pixabay

O alerta foi lançado num relatório do Observatório do Clima, coligação que junta meia centena de organizações ambientalistas brasileiras e internacionais.

Os dados sobre a desflorestação que afectou o território brasileiro no ano passado foram obtidos através da ferramenta MapBiomas Alerta, que analisou um total de 74.218 alertas de desmatamento.

“Pela primeira vez foi possível estimar quanto o Brasil perdeu de cobertura vegetal nativa a cada dia de 2020: foram 3.795 hectares desmatados em média, o que dá uma perda de 24 árvores a cada segundo durante todo o ano”, indica em comunicado o Observatório do Clima, que entre os seus associados tem a WWF e a Greenpeace. “No dia mais crítico de desmatamento, 31 de Julho, foram desmatados 4.968 hectares, quase 575 m2 por segundo.”

Com efeito, a desflorestação observada no país atingiu no ano passado uma área nove vezes maior do que a cidade de São Paulo. A área afectada cresceu face ao ano anterior, para um total de 13.853 quilómetros quadrados, a maioria (61%) na Amazónia.

No que respeita ao território brasileiro da Amazónia, aliás, os dados analisados mostraram que a desflorestação aumentou nove por cento face ao ano anterior. Já no Pantanal, esse crescimento foi de seis por cento e de 99% na Pampa, enquanto que na Mata Atlântica “explodiu, subindo 125%”, refere a coligação.

Outro dado preocupante diz respeito aos indícios de ilegalidade detectados. “O cruzamento mostra que a quase totalidade dos alertas de desmate emitidos no ano passado têm um ou mais indícios de ilegalidade: 99,8% deles, correspondendo a 98,9% da área desmatada, não têm autorização, ou sobrepõem-se a áreas protegidas, ou desrespeitam o Código Florestal.”

Apesar dessa percepção, apenas dois por cento dos alertas e 9,3% da área desflorestada tiveram acções de punição, indica o Observatório do Clima. Isto apesar de ser possível identificar, pelo menos em dois terços dos alertas, os responsáveis pelo derrube das árvores.

“Em tese, esses proprietários poderiam ser multados até mesmo pelo correio, já que para ter registo no CAR (Cadastro Ambiental Rural) é preciso fornecer os dados do requerente”, acrescenta.

“Infelizmente o desmatamento cresceu em todos os biomas e o grau de ilegalidade continua muito alto. Para enfrentar o desmatamento é necessário que a sensação de impunidade seja desfeita”, afirmou Tasso Azevedo, coordenador-geral do MapBiomas, consórcio que gere a ferramenta. “Para isso, é preciso garantir que o desmatamento seja detectado e reportado e que os responsáveis sejam devidamente penalizados e não consigam aferir benefícios das áreas desmatadas.”

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.