Cachalote. Foto: Pixabay

Cachalote encontrado morto com quase seis quilos de plástico no estômago

A baleia deu à costa da região Sudeste da Indonésia. Segundo organizações conservacionistas tinha no estômago 5,9 quilos de plásticos, desde copos, garrafas, sacos e até dois chinelos.

 

Técnicos do Parque Nacional de Wakatobi encontraram ontem o cachalote (Physeter macrocephalus) já em decomposição, numa zona costeira perto do parque, avança hoje o jornal britânico The Guardian.

Segundo o director do Parque, Heri Santoso, os investigadores da organização WWF e da área protegida encontraram 5,9 quilos de plásticos dentro do estômago do animal, incluindo 115 copos de plástico, quatro garrafas de plástico, 25 sacos de plástico, dois chinelos de borracha e mais de 1.000 bocados de plástico indiferenciado.

“Apesar de não termos conseguido apurar a causa da morte, os factos que vemos são verdadeiramente horríveis”, disse Dwi Suprapti, coordenadora da conservação das espécies marinhas na WWF Indonésia. Segundo a responsável, não foi possível determinar se os plásticos tinham causado a morte do animal por causa do seu avançado estado de decomposição.

Em Janeiro, um estudo científico publicado na revista Science alertava que a Indonésia produz anualmente 3,2 milhões de toneladas de resíduos plásticos, dos quais 1,9 milhões acabam nos oceanos.

A morte deste cachalote já motivou uma reação do Governo indonésio. O ministro para o Mar, Luhut Binsar Pandjaitan, disse à agência de notícias The Associated Press (AP) que o caso deveria sensibilizar as pessoas para a necessidade de reduzir o uso dos plásticos e o Governo para tomar medidas mais fortes para proteger o oceano.

“Estou tão triste por saber disto”, disse o ministro,  à AP, citada pelo jornal The Guardian. “É possível que muitos outros animais marinhos também estejam contaminados pelos resíduos plásticos e isto é muito perigoso para as nossas vidas.”

Em Dezembro do ano passado, os ministros do Ambiente dos Estados-membros da ONU, reunidos no Quénia, comprometeram-se a pôr um ponto final à ‘corrente’ de plásticos que se encaminham para os oceanos.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), todos os anos, mais de oito milhões de toneladas de plásticos acabam nos oceanos, arruinando a vida marinha, as pescas e o turismo, com custos de pelo menos 7,5 mil milhões de euros em prejuízos para os ecossistemas marinhos.

“O lixo plástico tornou-se o problema mais grave que afecta o ambiente marinho”, segundo um relatório sobre plásticos nos oceanos publicado em 2014 pela União Internacional de Conservação da Natureza (UICN), através do seu Programa Global Marinho e Polar.

De acordo com o relatório da UICN, entre 50 e 80% do lixo nas zonas costeiras do planeta é lixo plástico. “A sua presença foi detectada desde as profundezas dos oceanos às zonas costeiras de todos os continentes.” Os tipos de lixo mais encontrados são tampas de garrafas, garrafas, sacos, embalagens, copos, pratos e talheres e palhinhas.

Este lixo afecta inúmeras espécies marinhas. Como as baleias.

O cachalote é uma espécie classificada como Vulnerável pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

Hoje foi revelado em Lisboa que os cachalotes que ocorrem nas águas do arquipélago da Madeira vão receber 50.000 euros para aumentar o conhecimento científico sobre a espécie e ajudar a sua conservação.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.