uma abetarda no campo
Abetarda. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

Cada vez mais zonas para aves estepárias convertidas em regadio, denuncia SEO/Birdlife

A Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife) diz-se preocupada com o aumento dos pedidos para transformar em zonas de regadio várias áreas protegidas para aves estepárias como a abetarda e o sisão.

 

As zonas agrícolas de sequeiro – com searas e criação de gado extensiva, por exemplo – são refúgio para inúmeras aves. Em Espanha 600 dessas zonas são tão importantes que foram classificadas como Zonas de Protecção Especial (ZPE) para espécies como a codorniz, sisão ou o cortiçol-de-barriga-branca.

 

Sisão. Foto: Pierre Dalous/Wiki Commons

 

Mas “a intensificação da agricultura e o urbanismo têm transformado muitos desses espaços, levando a um grave declínio das populações das aves dos campos agrícolas”, segundo um em comunicado de 6 de Março, da SEO/Birdlife.

A organização está preocupada com o “significativo aumento de pedidos para transformar campos de sequeiro, em zonas protegidas ou de reconhecido interesse para espécies ameaçadas ou protegidas, em explorações de regadio”. Esta situação é particularmente grave nas regiões de Castela-La Mancha, Extremadura, Andaluzia, Múrcia, Aragão e Navarra.

Segundo a SEO/Birdlife, a conversão para regadio “supõe uma alteração na estrutura do solo, da vegetação e do microclima”, com consequências para aves e insectos e para a qualidade dos próprios solos e da biodiversidade.

A organização pede ao Governo espanhol que defenda uma Política Agrícola Comum que apoie o tipo de agricultura e de criação de gado que, como as culturas tradicionais de sequeiro, contribuam para melhorar a biodiversidade e conservar os recursos naturais, como a água e o solo.

“Compreendemos os problemas e desafios do sector agrícola, mas devemos trabalhar para compatibilizar objectivos de rentabilidade e as obrigações de conservação, dando valor à riqueza natural de muitas zonas agrícolas”, disse Ana Carricondo, responsável da SEO/Birdlife. Esta especialista defendeu também que seria muito importante “adoptar políticas que favoreçam a viabilidade económica dos modelos agrícolas que ajudam a proteger a biodiversidade, especialmente nos espaços da Rede Natura 2000”.

 

Abetarda. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

 

Recentemente, o governo de Navarra decidiu não autorizar uma nova conversão para regadio de 50 hectares numa ZPE no município de Miranda de Agra. Esta é uma área de importância para o peneireiro-das-torres, para a abetarda e para o cortiçol-de-barriga-branca, espécies declaradas em perigo de extinção naquela região. E ainda para outras classificadas como Vulneráveis, como o sisão, o tartaranhão-azulado e o tartaranhão-caçador.

Para a SEO/Birdlife, esta tomada de posição “marca um precedente já que, até agora, o normal era justamente o contrário: ceder ao regadio”.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.