Capturado o lince localizado na região de Barcelona

Lítio, o lince-ibérico que foi fotografado a 29 de Maio na região de Barcelona, foi capturado hoje por técnicos do projecto Iberlince e levado para outro local para garantir a sua segurança.

 

Depois de vários dias de tentativas, os conservacionistas do LIFE Iberlince e os Agentes Rurais, do Serviço de Fauna e Flora do Ajuntamento de Santa Coloma de Cervelló conseguiram capturar Lítio, um lince macho de quatro anos. O animal “estava numa zona próxima de zonas urbanas e infraestruturas viárias, pouco adequada ao seu desenvolvimento óptimo”, explica um comunicado do Iberlince.

 

Foto: LIFE Iberlince

 

Os técnicos localizaram, identificaram e seguiram o lince até que foi capturado, depois de receberem um aviso do proprietário de um campo de cerejeiras perto de Santa Coloma de Cervelló. “A partir desse momento, definiu-se uma equipa para localizar o animal e verificar que realmente se tratava de um lince-ibérico”.

Uma vez identificado e confirmado, foi montado um esquema de captura, organizado por uma equipa que veio da Andaluzia e que envolveu dez pessoas. Lítio acabou por entrar numa das três jaulas colocadas no terreno.

 

 

Imediatamente foi levado para o Centro de Fauna de Torreferrussa, onde uma equipa de veterinários avaliou o seu estado de saúde e recolheu amostras. Também lhe retiraram o colar GPS para descarregar os dados de seguimento que acumulou até então, a fim de conhecer com maior detalhe a sua viagem desde o Vale do Guadiana, onde foi libertado em Outubro de 2016, até perto de Barcelona.

As deslocações deste animal em território português e em várias regiões espanholas somam no total cerca de 1.000 quilómetros. Lítio foi o quinto lince a realizar dispersões conhecidas entre Portugal e Espanha desde 2010, mas o primeiro a ser detectado na Região Autonómica da Catalunha. Aliás, trata-se da primeira ocorrência desta espécie na Catalunha, desde os princípios do século XX.

De acordo com a equipa de veterinários, Lítio está bem de saúde. Por isso, o animal foi levado até à Andaluzia onde será devolvido à liberdade “num local mais adequado”.

Este lince nasceu em 2014 em Espanha, no centro de reprodução do El Acebuche, no Parque Nacional de Doñana. Em Maio de 2015, foi directamente libertado na natureza, na Herdade das Romeiras, concelho de Mértola.

 

lince

 

No entanto, passado um ano, em Maio de 2016, Lítio acabaria por ser capturado em Gibraelon (Huelva), com “sinais de debilidade e de doença”. Foi levado para um centro de recuperação de fauna em Huelva, onde permaneceu durante cerca de quatro meses, até ser novamente solto na área de reintrodução em Mértola com o objectivo de integrar a população de linces do Vale do Guadiana. “Rapidamente porém iniciou grandes movimentos dispersivos chegando a ser localizado na zona ocidental do Algarve.”

Lítio surge assim como um dos vários exemplares de lince que realizam grandes deslocações, atravessando toda a Península Ibérica sem se fixarem, e que “podem ter uma função de conectividade muito importante para o futuro da espécie”, acrescenta o ICNF. “Esta capacidade de movimentação permite (…) que possa vir a existir um fluxo genético entre as populações a nível ibérico e a espécie possa funcionar como uma metapopulação.”

Ao contrário de Lítio, a maioria dos linces-ibéricos que estão estabilizados numa população, como por exemplo a população de linces do Vale do Guadiana, fixam-se em territórios que medem apenas entre cinco a dez quilómetros quadrados.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.