Castor-europeu (Castor fiber). Foto: Philipp Blank/Wiki Commons

Castores ganham o direito legal a viver em rio inglês

As 15 famílias de castores que vivem no rio Otter, em Devon, foram hoje autorizadas pelo Governo britânico a continuar na região, depois de cinco anos de experiência sobre o impacto da sua reintrodução.

 

Hoje foi conhecida a decisão do Governo britânico sobre os primeiros castores (Castor fiber) a viver em estado selvagem em Inglaterra em 400 anos.

Os castores já foram parte crucial dos ecossistemas em Inglaterra. Mas, no século XVI foram caçados até à extinção por causa da caça pelo seu pêlo, carne e e secreções glandulares.

Em Portugal, os castores tiveram um fim semelhante, entre os séculos XV e XVI.

Tudo começou em 2013 quando foi descoberta uma família de castores no rio Devon. As suas origens continuam por esclarecer.

Inicialmente, a remoção destes animais daquele rio foi uma opção. Mas grupos de conservação da natureza, nomeadamente o Devon Wildlife Trust, entraram em acção e tentaram mostrar que os castores eram europeus, e não norte-americanos. Acabaram por conseguir uma licença para cinco anos de experiência para a reintrodução de castores, o que veio a acontecer em 2015.

Agora chegou a autorização legal. “Os cinco anos de teste trouxeram uma variedade de benefícios para a região e para a ecologia, incluindo a melhoria do ambiente, com a criação de habitats de zonas húmidas e com a redução do risco de inundações”, explica hoje o Governo britânico em comunicado.

Os castores “serão agora autorizados a ficar na região de forma permanente e a continuar a expandir o seu território de forma natural, encontrando novas áreas para se instalarem à medida que precisarem”.

Ao longo destes anos, duas famílias de castores já se têm reproduzido com sucesso e dispersaram-se por 15 territórios.

Recentemente, um estudo da Universidade de Exeter mostrou que os castores alteram a paisagem e os ecossistemas, com a sua capacidade de construir diques nos rios. Desta forma ajudam a reduzir a poluição e melhoram a biodiversidade local, incluindo peixes e anfíbios. Isto porque os seus diques filtram poluentes, evitam a erosão dos solos, ajudam a abrandar a velocidade das cheias e a criar bolsas de armazenamento de água que impedem os rios de secarem durante as épocas de calor.

Peça chave neste processo foi o envolvimento dos agricultores e moradores locais, tendo sido uma aposta da equipa de reintrodução dos castores. “Se os proprietários souberem que há alguém a quem podem telefonar se houver problemas, isso ajuda verdadeiramente”, comentou ao jornal The Guardian Peter Burgess, director de conservação do Devon Wildlife Trust. “Os animais serão mais bem recebidos se for esta a abordagem.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.