Censos locais de espécies podem revelar estado de saúde de ecossistemas inteiros

Monitorizar e registar espécies a nível local, a uma pequena escala, pode revelar a saúde de ecossistemas inteiros, mostra um novo artigo científico publicado este mês na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Monitorizar a vida selvagem é um dos aspectos mais caros, mais demorados e difíceis da conservação da natureza e depende de observações a longo prazo de espécies individuais. Isto significa que, na prática, apenas pequenas partes dos ecossistemas podem ser monitorizadas, segundo os autores do artigo.

Mas este estudo, publicado a 8 de Maio na PNAS, revela um método novo e eficaz, focado nas interações entre espécies como os insectos a polinizar as flores ou as aves a alimentar-se de plantas.

Os resultados mostram que uma pequena “fotografia” das interacções pode ser um indicador fiável da saúde de uma comunidade inteira de espécies. Especificamente, o estudo olhou para a questão de se estas comunidades são “persistentes” ou não. Ou seja, se todas as espécies estão bem ou se algumas estão em declínio em direcção à extinção.

O estudo foi feito por cinco universidades: Universidade de Exeter (Reino Unido), Universidade McGill (Canadá), Universidade de Toronto (Canadá), Universidade Princeton e o MIT (Estados Unidos).

“Todas as comunidades de plantas e de animais dependem de uma rede de interacções entre espécies”, comentou, em comunicado, Christopher Kaiser-Bunbury, investigador do Centre for Ecology and Conservation no Campus da Universidade de Exeter na Cornualha e um dos autores do artigo.

“O nosso estudo – que combina teoria, estatísticas e dados recolhidos no campo – mostra que estudar algumas destas interacções pode dar-nos conclusões ao nível da ‘big picture’ da saúde dos ecossistemas”, acrescentou.

“Esta informação é essencial para decisores políticos, cientistas e sociedade, numa altura em que tentamos lidar com a crise mundial da biodiversidade.”

Quando as condições ambientais mudam, as interacções entre espécies, muitas vezes, também mudam. Isto pode ser um indicador de problemas maiores.

Por isso, o método descrito neste artigo pode identificar padrões de forma mais rápida do que a monitorização tradicional.

“Usando recursos mínimos conseguimos avaliar rapidamente a persistência de redes ecológicas inteiras e o esperado sucesso do restauro da natureza”, comentou Benno Simmons, da mesma universidade.

Este investigador explicou que este método “é especialmente eficaz em identificar quando uma comunidade ecológica não é persistente, o que permite uma rápida detecção do risco de extinção”.

Os investigadores acreditam que coordenar a acção para agregar informação de monitorização incompleta pode ajudar a fazer uma rápida avaliação da persistência de redes ecológicas inteiras e das estratégias de restauro.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.