um abutre africano pousado num ramo
Grifo africano (Gyps africanus). Foto: Pandabear2016/Wiki Commons

Cento e quatro abutres encontrados envenenados em Moçambique

No sul do país, foram encontrados 87 abutres mortos junto a uma carcaça de elefante envenenada, e outros 17 ainda vivos que estão agora em recuperação.

 

De acordo com a Vulture Conservation Foundation (VCF), fundação que se dedica à conservação dos abutres, estes abutres envenenados foram encontrados no dia 25 de Fevereiro na zona de Mbashene, próxima da África do Sul.

André Botha, do Endangered Wildlife Trust da Africa do Sul, que se deslocou ao local, viu que alguns dos abutres mortos “tinham sido mutilados, provavelmente para extrair partes do corpo para serem usadas na medicina tradicional”, descreveu à VCF.

Junto à carcaça de um jovem elefante, André Botha e a sua equipa depararam com 104 abutres afectados pelo veneno, incluindo 87 já mortos. Destes, 80 eram grifos-africanos (Gyps africanus) e sete eram abutres-de-capuz (Necrosyrtes monachus).

 

um abutre africano pousado num ramo
Grifo africano (Gyps africanus). Foto: Pandabear2016/Wiki Commons

 

Os restantes 17 abutres “foram encontrados vivos” e tratados no local e depois transportados para um centro de reabilitação.

As autoridades moçambicanas detiveram um suspeito do envenenamento e confiscaram as pequenas presas que tinham sido retiradas ao elefante morto, tal como o veneno que tinha sido colocado na carcaça do animal.

Segundo a VCF, a rapidez de resposta nesta situação foi importante, pois “permitiu o resgate e tratamento de muitos abutres envenenados, tal como a eliminação da carcaça, prevenindo assim outros casos de envenenamento”.

Tanto o EWT como outras organizações em África têm promovido programas de formação relativos a acções de intervenção em incidentes de envenenamento de vida selvagem, distribuindo também ‘kits’ de resposta a venenos.

A descoberta dos abutres em Moçambique sucedeu pouco tempo depois de terem sido encontrados 75 abutres e 6 leões mortos por veneno na Tanzânia.

“Estes acontecimentos frequentes e sucessivos estão a levar várias espécies de abutres africanos à extinção”, avisa a VCF, que recorda que o uso de iscos envenenados é a principal ameaça aos abutres, em todo o mundo.

Segundo esta fundação, que tem vários projectos que combatem o uso de venenos na Europa, a situação em África é “ainda mais negra”. “Nos últimos 30 anos, algumas espécies africanas decresceram em 80% e quatro espécies de abutres africanos estão agora Em Perigo Crítico” – o último degrau antes da extinção na natureza. Outras três espécies estão Em Perigo.

Em Outubro passado, foi aprovado um plano de acção global com 124 medidas de conservação, que visa proteger 15 espécies de abutres por todo o mundo.

Entre as medidas consideradas essenciais está a revisão e o reforço das penas nos casos de envenenamento ilegal de vida selvagem, a formação dos agentes de natureza para responder rapidamente em caso de envenenamento de abutres, a identificação nos territórios destas aves dos maiores perigos (como linhas eléctricas, por exemplo) e proibir ou retirar do mercado o diclofenaco (um anti-inflamatório usado para tratar gado bovino).

O documento foi aprovado no âmbito da Convenção sobre a Conservação de Espécies Migradoras da Fauna Selvagem, da qual Portugal é signatário.

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.