Lince-ibérico. Foto: MITECO

Centro nacional de reprodução em Silves já “deu” 100 linces-ibéricos à natureza

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Peça central da conservação ex situ do lince-ibérico, o Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI), em Silves, já “deu” 100 crias para reforçar as populações selvagens. Hoje foi libertado na Andaluzia o 100º lince nascido no centro português.

Em jeito de comemoração do Dia Mundial da Vida Selvagem, que se celebra a 3 de Março, foi libertado esta manhã o 100º lince-ibérico (Lynx pardinus) nascido no CNRLI desde a sua abertura. Tudo aconteceu na Sierra Arana, na Andaluzia, Espanha.

Imagens: CNRLI/ICNF

O CNRLI – instalado em Vale Fuzeiros, São Bartolomeu de Messines, Silves – está no centro de um dos maiores esforços de conservação da Europa.

A pouco e pouco, o lince-ibérico está a regressar aos seus territórios históricos em Portugal e Espanha. Este felino de barbas e de orelhas com pontas em forma de pincel foi, até 2015 uma espécie Criticamente Em Perigo de extinção. Em Portugal, chegou a viver numa situação de “pré-extinção”.

Segundo o censo mais recente, a população de lince-ibérico está estimada em 1.365 animais. Graças aos projectos ibéricos de conservação da natureza, a população mundial de lince-ibérico conseguiu aumentar, partindo de apenas 94 linces em 2002, isolados em duas populações fragmentadas na Andaluzia.

Lince-ibérico, cria. Foto: Programa Ex-situ (arquivo)

Dos 13 núcleos populacionais registados na Península Ibérica em 2021, 12 estão em Espanha, com 1.156 animais. Portugal, com um núcleo populacional, no Vale do Guadiana, terá 209 linces, correspondendo a 15,3% da população ibérica.

Para estes números muito contribuiu o CNRLI, onde nasceram 100 dos mais de 300 linces que, desde 2011, têm vindo a ser libertados em diferentes locais na Península Ibérica, no âmbito dos esforços ibéricos de conservação da espécie.

A 14 de Fevereiro de 2011, as fêmeas Grazalema e Granadilla, nascidas no centro de reprodução de La Olivilla, foram os primeiros linces ibéricos nascidos em cativeiro a ser libertados na natureza, na zona de Guarrizas.

Inaugurado a 26 de outubro de 2009, com a chegada de Azahar vinda do Zoo de Jerez, o CNRLI faz parte da rede ibérica de cinco centros de reprodução (El Acebuche, La Olivilla, Zarza de Granadilla, Zoo de Jerez e Silves). Até final de 2023 este programa terá libertado 372 animais.

Desde 2010, nasceram no CNRLI 154 linces. Desses, 119 sobreviveram mais de 6 meses. Ao todo, foram reintroduzidos 17 linces em Portugal, 29 na Andaluzia, 24 na Extremadura e 32 em Castela La Mancha. O 103º será solto na região espanhola de Múrcia que inicia os trabalhos de reintrodução ainda este mês.

Sala de videovigilancia do CNRLI. Foto: Joana Bourgard/arquivo

Estes 103 animais correspondem a 86.5% de todos os linces sobrevivos nascidos no CNRLI.

Este ano não serão libertados linces em Portugal

“Em Portugal, o “Censo da população de lince-ibérico do Vale do Guadiana” relativo ao ano de 2022 permitiu confirmar a existência de mais de 30 fêmeas reprodutoras na população de lince-ibérico reconstituída a partir de 2015, instalada no Vale do Guadiana e, desde 2019, também no sotavento serrano Algarvio”, segundo o ICNF.

“Atualmente, as 31 fêmeas reprodutoras confirmadas em território nacional asseguram a sustentabilidade desta população em Portugal, pelo que para se manter em crescimento já não depende de soltas anuais de vários exemplares nascidos em cativeiro.”

Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ/arquivo

Ainda assim, poderão vir a acontecer libertações para aumentar a diversidade genética e baixar os níveis de consanguinidade.

Ao mesmo tempo, serão planeadas translocações, dentro e entre populações, de exemplares já nascidos em estado selvagem, selecionados pelas suas características genéticas, com o objetivo de se controlar e reduzir a taxa de endogamia.

“Desta forma, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), em estreita articulação com as administrações congéneres de Espanha, quer a nível do Governo central, quer a nível das Regiões Autónomas de Espanha, optou por não promover a libertação de jovens linces provenientes de reprodução em cativeiro, em 2023, permitindo assim concentrar esforços na preparação e prossecução de ações de gestão ativa no terreno, visando a melhoria do habitat para o lince e para a sua espécie presa preferencial – o coelho-bravo – na auscultação e sensibilização do público, centradas nas novas áreas de distribuição natural.”

Ainda assim, a conservação do lince-ibérico ainda não é uma batalha ganha e as ameaças ao futuro da espécie continuam a preocupar.

Hoje, a agência de notícias espanhola EFE dá conta da morte do segundo lince-ibérico no espaço de uma semana nas estradas andaluzas. O lince era um macho adulto da população de Doñana-Aljarafe e morreu na estrada A-481, que liga Hinojos (Huelva) a Villamanrique (Sevilha). Na segunda-feira tinha morrido outro macho, na estrada que liga Aznalcázar a Bollullos de la Mitación (Sevilha).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.