Cidadãos estão a ajudar a reintroduzir gafanhoto raro em Inglaterra

Fêmea de gafanhoto-grande-dos-pântanos (Stethophyma grossum). Foto: Gilles San Martin/Wiki Commons

Chama-se “Um Salto de Esperança” e é um entre vários projectos liderados pela Citizen Zoo, uma organização que tem como objectivo envolver os cidadãos comuns britânicos em projectos de conservação e de ‘rewilding’.

Em causa está o maior gafanhoto do Reino Unido, conhecido como gafanhoto-grande-dos-pântanos (Stethophyma grossum) – em inglês, ‘large marsh grasshopper’ – que ocorre em quase toda a Europa mas é raro em território britânico. Em Portugal, não se conhecem hoje em dia registos desta espécie, que tem sido observada por exemplo no Norte de Espanha.

Este gafanhoto verde, que assume também cores mais vivas, incluindo rosa e amarelo, está reduzido a algumas poucas populações fragmentadas no Reino Unido, onde se teme que venha a desaparecer, explica uma notícia do The Guardian.

“Devido à fragmentação do habitat e às alterações climáticas, é provável que se extinga nos próximos 25 anos se não fizermos nada”, explicou o director executivo da Citizen Zoo, Lucas Ruzo, citado pelo The Guardian. “Muitos sítios onde antes ocorria foram agora restaurados e por isso é um bom candidato à reintrodução. Esperamos que seja um símbolo do aumento da restauração da paisagem e que este projecto encoraje uma aproximação mais produtiva à conservação, que falta muitas vezes.”

Foto: Citizen Zoo

A Citizen Zoo lançou um projecto de criação em cativeiro e libertação destes gafanhotos em zonas húmidas da região de East Anglia, no Leste do país, onde sabe-se que antigamente eram comuns.

O projecto foi aprovado pela autoridade britânica para a conservação, a Natural England, e começou em 2018 pela recolha de alguns gafanhotos-grandes-dos-pântanos na zona de New Forest – uma vasta área florestal no sul de Inglaterra e um dos poucos locais onde ainda há registos da espécie.

Desses gafanhotos, metade foram directamente libertados numa zona húmida de Norfolk, em East Anglia, mas os restantes foram mantidos em cativeiro e reproduziram-se “em condições cuidadosamente controladas, em que puseram muitos mais ovos do que teria acontecido na natureza”, explica a Citizen Zoo. Esses ovos, por sua vez, “foram recolhidos para eclodirem e serem criados dentro de casa no Verão seguinte”, e a primeira leva foi libertada em 2019, descreve esta associação britânica.

Até agora, segundo o The Guardian, foram libertados 2.152 gafanhotos-grandes-dos-pântanos. Em breve, neste Verão, está prevista a libertação de outros 1.000 destes animais, em dois sítios que não foram ainda revelados.

Criados em casa por voluntários

A criação em cativeiro costuma realizar-se em zoos e em instalações dedicadas. Mas neste projecto, está a ser feita nas casas de cidadãos comuns que se voluntariam e recebem formação específica e que são conhecidos como “cidadãos guardiões”.

Entre estes contam-se um empreendedor, vários reformados e também estudantes que vivem em Londres e também em Cambridgeshire, e ainda pessoas que trabalham na Citizen Zoo.

“Durante seis a oito semanas nos dois últimos Verões, cada um deles apanhou erva fresca diariamente para alimentar e ajudar a crescer jovens gafanhotos mantidos em viveiros em casa. Uma proporção muito maior de gafanhotos conseguiu desta forma chegar à idade adulta, em cativeiro, do que teria acontecido na natureza”, nota a mesma associação.

Ciclo está a completar-se

E para já, este processo está a dar bons resultados. Em Julho de 2020, foram descobertos os primeiros machos de gafanhoto-grande-dos-pântanos a chamar por fêmeas, na zona de Norfolk. Estes machos eram descendentes dos que tinham sido criados em casa de voluntários e libertados em 2019.

“Foram um marco importante para o projecto porque mostraram que a espécie introduzida completou o seu ciclo de vida anual na natureza, passando o Inverno como ovos, eclodindo no início do Verão e passando por quatro fases como ninfas, antes de se tornarem adultos.”

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.