Borboleta napi ou borboleta-do-nabo (Pieris napi), na Mata do Desterro. Foto: Albano Soares

Ciência cidadã: Já se contaram mais de 43.000 borboletas em Portugal desde 2019

Os voluntários nos Censos de Borboletas de Portugal já registaram muitos milhares de observações, que ajudam a traçar o retrato destes insectos no país. Os resultados vão ser objecto de um balanço este fim-de-semana em Avis, no Alentejo.

Foi em Maio de 2019 que arrancaram os Censos de Borboletas de Portugal, um projecto que ajuda a traçar o diagnóstico de como estão hoje estes insectos tão carismáticos, afectados tal como muitos outros pela crise da biodiversidade.

As contagens que desde há quase quatro anos se realizam em Portugal Continental traduziram-se entre 2019 e 2022 no registo de 43.841 borboletas diurnas de norte a sul do país, divididas em 102 espécies diferentes, avançaram esta semana os coordenadores do projecto: a associação Tagis e o laboratório de investigação cE3c, ligado à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Contas feitas, já se encontraram mais de dois terços das espécies que ocorrem no território nacional.

Estes e outros resultados do projecto vão ser apresentados e debatidos em Avis entre a próxima sexta-feira e domingo, dias 24, 25 e 26, durante o terceiro Encontro dos Censos de Borboletas de Portugal. Presentes vão estar muitos dos voluntários que colaboram com esta iniciativa de ciência cidadã, incluindo vigilantes da natureza, e também representantes de várias organizações.

Além dos cidadãos cientistas que participam nas contagens a nível individual, várias entidades juntaram-se nos últimos anos a esta iniciativa, desde organizações não governamentais de ambiente a entidades municipais e estatais, como é o caso do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, responsável pela realização destes censos em 18 áreas protegidas e classificadas de Portugal Continental.

Como se contam borboletas?

A realização das contagens é muito simples: cada voluntário realiza periodicamente um pequeno percurso fixo – conhecido como transecto – para contar e identificar as borboletas que aí observa. “Esta metodologia usada por toda a Europa possibilita o cálculo de índices, a realização de comparações entre diferentes sítios e a avaliação das tendências populacionais das borboletas e dos insectos”, explica a equipa dos Censos num comunicado, no qual lembra que “a monitorização das comunidades de borboletas é realizada regularmente em vários países europeus por milhares de cidadãos, como parte do Plano Europeu de Monitorização de Borboletas Diurnas”.

Quanto a Portugal, “embora ainda seja cedo para retirar conclusões sobre o estado de conservação das borboletas portuguesas e dos seus habitats, já se pode adiantar quais as espécies mais abundantes ou indicar os transectos com maior diversidade de borboletas”, explica a equipa organizadora do encontro.

Em Avis, está prevista também a apresentação de outros projectos semelhantes a este, que estão a decorrer em Espanha e noutros países europeus, e ainda de outras iniciativas de ciência cidadã que têm os insectos como tema principal.

Mas o evento desde fim-de-semana está ainda aberto a todos os interessados em aprender mais sobre este assunto, que queiram juntar-se a estas contagens como voluntários. “Como não podia deixar de ser, há também espaço para actividades abertas ao público, com a observação de borboletas nocturnas na primeira noite e um workshop de identificação de borboletas na manhã de domingo, possibilitando que mais pessoas se juntem a este projecto de ciência-cidadã que já conquistou a Europa e está agora em plena expansão no nosso país”, sublinham os organizadores do encontro. 


Saiba mais.

Para mais informações sobre inscrições no evento ou nas atividades abertas ao público, contacte [email protected].

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.