Ouriço. Foto: Alexandra München/Pixabay

Ciência cidadã: O ouriço-cacheiro mais idoso do mundo foi encontrado na Dinamarca

Centenas de voluntários envolveram-se num projeto que ajudou os cientistas e recolherem mais informação sobre a idade e as causas de morte destes mamíferos insectívoros.

Os resultados desta iniciativa de ciência cidadã realizada na Dinamarca entre Maio e Dezembro de 2016, apelidada de “Projecto Dinamarquês do Ouriço-cacheiro”, foram publicados agora na revista científica Animals. O projecto foi liderado por Sophie Lund Rasmussen, investigadora nas universidades de Oxford e de Aalborg, com o objectivo de saber mais sobre o ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus) – hoje em declínio em vários países europeus – incluindo até que idades vive.

Os cientistas apelaram a que os cidadãos lhes entregassem todos os ouriços mortos que encontrassem, o que resultou num total de 697 animais vindos de todo o país, entregues por mais de 400 voluntários, descreve uma nota de imprensa da Universidade de Oxford.

Entre estes ouriços, a equipa de quatro investigadores encontrou um exemplar que teria 16 anos quando morreu, o ouriço-cacheiro mais idoso até hoje registado cientificamente. Dois outros ouriços tinham 13 e 11 anos, mais do que o detentor do recorde de longevidade até então, que tinha 9 anos quando faleceu.

Para determinar a idade destes mamíferos, os cientistas analisam os ossos das mandíbulas que contêm linhas de crescimento, causadas pelas fases de hibernação que na Dinamarca se estendem desde o final de Setembro até meados de Abril ou Maio. Cada uma dessas linhas, à semelhança dos anéis das árvores, corresponde a um ano.

Mas apesar de alguns ouriços viverem muitos anos, os exemplares recebidos pela equipa, em média, só tinham chegado a cerca de dois anos de idade. Cerca de um terço, aliás, tinha morrido com um ano de vida no máximo. As fêmeas têm uma vida mais difícil, tendo de cuidar sozinhas das crias, e com efeito foram aquelas que viveram menos – 1,6 anos em média – enquanto que os machos alcançaram cerca de 2,1 anos.

Muitos atropelamentos

Quanto às causas de morte, os investigadores concluíram que mais de metade dos ouriços (56%) tinham sido atropelados – em especial no mês de Julho, no “pico” da época de acasalamento desta espécie na Dinamarca, quando estes mamíferos “percorrem longas distâncias e atravessam mais estradas em busca de um parceiro”.

Outros ouriços (22%) tinham morrido em centros de reabilitação de fauna selvagem, por exemplo depois de serem atacados por cães, e ainda outros 22% por causas naturais em meio selvagem.

“Embora tenham sido encontrados muitos indivíduos que morreram com um ano de idade, os nossos dados mostraram que se os ouriços sobreviverem a esta fase da vida, podem potencialmente viver até aos 16 anos e produzir descendentes por vários anos”, indicou a coordenadora do projecto, Sophie Lund Rasmussen. “Isto pode ser porque os ouriços ganham mais experiência à medida que crescem”, disse ainda. “Se conseguirem chegar aos dois anos ou mais, terão provavelmente aprendido a evitar perigos como os carros e os cães.”


Agora é a sua vez.

Recorde como pode ajudar os ouriços-cacheiros nas cidades, aqui.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.