Eucaliptos. Foto: ekaterinvor/Pixabay

Cientistas alertam para riscos que florestas de monocultura trazem ao ciclo da água

Quase 40% da área mundial livre de gelo foi já convertida para florestas e agricultura, muitas vezes com uma única espécie de árvore ou cultura alimentar.

“As monoculturas florestais e agrícolas (fazendo crescer uma única espécie repetidamente na mesma área de terreno) podem constranger estes caminhos [do ciclo da água], afectando negativamente condições como a humidade dos solos e a erosão, o fluxo das águas, a evaporação e a qualidade das águas subterrâneas”, avisa um comunicado sobre as conclusões de uma equipa internacional de cientistas especialistas em hidrologia.

Estes quase 30 investigadores de 11 países, incluindo o Canadá, os Estados Unidos, Espanha e Brasil, publicaram esta semana um artigo de opinião na revista científica Nature GeoScience. Nele, alertam que os decisores políticos e gestores de terras devem ter em conta as interacções entre água e vegetação quando decidem o que plantar.

“Quando modificamos paisagens para ajudar a combater as alterações climáticas ou para responder à procura humana de alimentos e energia, devemos ser inteligentes”, considera Irena Creed, hidrologista da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, e uma das autoras principais do novo artigo.

“Precisamos de emular o que era natural não ficando dependentes apenas de umas poucas culturas ou árvores, mas em vez disso adoptando a biodiversidade”, aconselha a investigadora, citada no comunicado. “Quando limitamos a biodiversidade apenas a umas poucas colheitas seleccionadas, isso torna todo o ecossistema vulnerável.”

Em causa está a falta de diversidade que nesses casos ocorre quanto à velocidade a que as árvores libertam água para a atmosfera. “Quando temos um alcance diverso na velocidade a que a água se movimenta [ao longo do ciclo], estamos a construir um sistema mais diverso que pode resistir a stresses como as secas e os fogos”, explica.

Um exemplo são as raízes das árvores numa floresta com muitas plantas diferentes: algumas raízes chegam a grandes profundidades, outras ficam num nível intermédio, outras ainda próximas da superfície, e por isso ganham acesso a qualidades diferentes de solo. Pelo contrário, numa situação de monocultura, em que as raízes ficam todas ao mesmo nível, “as árvores podem ficar mais susceptíveis a uma situação de seca.”

Os investigadores avisam que as plantações crescentes de árvores para o corte de madeira “podem reduzir, ou mesmo eliminar, os fluxos de água, e por vezes levar à salinização e acidificação dos solos, tal como a uma susceptibilidade crescente a incêndios.”

No mesmo sentido, a uniformidade de plantas gerida de forma muito controlada, em áreas que substituíram zonas húmidas, também tem sido ligada a um aumento de inundações e de secas e da sua severidade, tal como ao piorar da qualidade da água.

“Precisamos que os governos dêem prioridade à investigação sobre quanta diversidade será suficiente para que um determinado tipo de paisagem seja resiliente e aguente stresses ambientais”, destaca Irena Creed.

Os cientistas lembram também que começam a estar disponíveis sensores com novas tecnologias, que permitem pesquisar as mudanças que estão a acontecer no ciclo da água.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.