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Foto: Danilo Cedrone/Wiki Commons

Cientistas concluem que reservas marinhas são vitais onde há mais pressão humana

Um estudo científico internacional, que envolveu uma equipa de 37 cientistas,  analisou quase 1.800 recifes tropicais de coral em todo o mundo e concluiu que as reservas marinhas podem fazer uma importante diferença quando há muita pressão humana.

 

As conclusões deste estudo liderado por Josh Cinner, do ARC Centre of Excelente for Coral Reef Studies, na Austrália, foram publicadas em Junho na  revista científica PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences Of the USA).

A equipa descobriu que em recifes sujeitos a pressões humanas elevadas, as reservas marinhas – onde a pesca é proibida – tinham cinco vezes mais peixes do que acontecia em áreas abertas à livre pesca. E que essa diferença pode beneficiar mesmo as áreas circundantes que estejam afectadas.

“Uma parte realmente nova e excitante do nosso estudo percebeu que a grande diferença na biomassa de peixes entre reservas marinhas e zonas abertas à pesca acontece em localizações onde as pressões humanas são entre médias e elevadas”, indicou Josh Cinner, sublinhando que é nesses sítios que o impacto das reservas marinhas é maior para uma grande parte das espécies de peixes.

Ainda assim, os investigadores encontraram também sinais de que mesmo as reservas marinhas são claramente afectadas pelas actividades humanas, em especial onde existe mais população.

“Os ‘stocks’ de peixe estavam fortemente enfraquecidos em recifes acessíveis a grandes populações humanas”, destacou o cientista, num comunicado sobre o novo estudo.

“Comparando com as reservas marinhas que estão longe das pressões humanas, as reservas marinhas próximas de grandes pressões humanas tinham apenas um quarto dos peixes e era cem vezes menos provável encontrarmos predadores de topo, como os tubarões.”

Os cientistas perceberam que mesmo que a riqueza de peixe seja muito maior numa reserva marinha do que em zonas abertas à pesca, os predadores de topo ‘fogem’ de todos os locais onde há actividade humana, incluindo essas reservas.

 

Tubarões fogem dos humanos

“O impacto das pessoas é tão grande que não encontrámos um só tubarão próximo dos seres humanos”, afirmou ao El Pais outro dos co-autores deste estudo, Camilo Mora, docente na Universidade do Hawai. Ainda assim, a hipótese de encontrar um destes animais duplica à medida que nos afastamos de zonas mais povoadas, descobriu também a equipa.

O problema é que a falta de predadores de topo não chega a ser compensada por um maior número de espécies mais abaixo na cadeia alimentar, uma vez que estas últimas são capturadas pelos pescadores – o que faz com que “a biodiversidade de muitos recifes fique completamente distorcida por uma ou duas espécies”, disse também o investigador, ao jornal espanhol.

No estudo, os investigadores avaliaram a biomassa de peixes e a presença de predadores de topo em recifes de coral em 41 países, estados e territórios. Para medir pressões humanas como a pesca e a poluição, desenvolveram uma escala de ‘gravidade humana’ que quantifica factores como o tamanho da população humana, a distância aos recifes e as infraestruturas de transportes em terra.

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.