Cientistas confirmam uma suspeita de Darwin: quanto mais perto do Equador, mais coloridas são as aves

Duas araras-vermelhas-pequenas (Ara macao), espécie presente na América Central e no norte da América do Sul. Foto: Jonas Konicek/iNaturalist

Investigadores da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, realizaram um estudo para perceber se as teorias de Charles Darwin e Alexander von Humboldt fazem sentido.

Estes dois cientistas dos séculos XVIII e XIX defenderam que as aves vão ficando mais coloridas à medida que nos aproximamos do paralelo do Equador, linha imaginária que separa o Hemifério Norte do Hemisfério Sul. O inverso acontece se nos dirigirmos na direcção oposta, a caminho dos Pólos, com penas de tonalidades cada vez mais “cinzentas” e monocromáticas.

No entanto, nota um comunicado divulgado pela Universidade de Sheffield, ainda não tinha sido possível comprovar cientificamente esta teoria, “devido ao grande montante de dados e de tecnologia avançada de imagem necessários para se examinarem esses padrões à escala mundial”.

Até agora. Graças às tecnologias que têm hoje ao dispor, a equipa de investigadores conseguiu recorreu à inteligência artificial para identificar os padrões de cores em mais de 24.000 espécimes de aves conservadas na colecção do Museu de História Natural em Tring, na região inglesa de Hertfordshire. Esta colecção tem representantes de “mais de 95 por cento” das espécies de aves vivas no mundo.

Os resultados do estudo foram agora publicados na revista científica Nature Ecology & Evolution e indicam que as aves tropicais são, regra geral, cerca de 30 por cento mais coloridas do que as suas congéneres que vivem mais perto dos pólos.

Para chegarem a esta conclusão, os investigadores fotografaram mais de 4.500 espécies de passeriformes da colecção do museu londrino. Os Passeriformes são a ordem com mais diversidade de espécies em todo o mundo – entre 5.000 e 6.000 – incluindo pardais, corvos e aves canoras.

“A equipa de Sheffield identificou a cor da plumagem em 1.500 pontos individuais em cada espécime [examinado], extraindo informação dos pixels das fotografias”, descreve a universidade. As aves foram depois ordenadas pela quantidade de cores em cada uma e de acordo com as regiões do mundo de onde são nativas.

Quais são os motivos para esta diferença?

Os cientistas avançam com duas causas possíveis para as diferenças de tonalidades que podemos encontrar, dependendo de estarmos mais perto do Equador ou dos Pólos.

Em primeiro lugar, o habitat característico das áreas tropicais, que é bastante colorido, levando as aves a exibirem mais variedade e vivacidade de tons para se camuflarem melhor no ambiente que as rodeia. No mesmo sentido, nas latitudes mais elevadas, mais próximas do Pólo Sul ou do Pólo Norte, estes animais têm de se adaptar a paisagens mais despidas e monótonas.

Por outro lado, considera a equipa, junto ao Equador as aves alimentam-se muitas vezes do néctar das flores e de fruta, tendo mais energia para “investir” em cores mais vivas.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.