Cientistas criaram a maior biblioteca de sons de morcegos

Uma equipa internacional de investigadores criou a maior biblioteca de sons emitidos por morcegos, no México. Além de possibilitar a identificação automática de 59 espécies pelos seus chamamentos, esta nova ferramenta ajuda a perceber melhor alterações na biodiversidade em geral.

 

O México alberga 130 espécies de morcegos, o que é considerado um número muito significativo. Por exemplo, Portugal tem 27 e a Grã-Bretanha, 17. No entanto, o México tem uma das mais elevadas taxas de extinção e de perda de habitat.

Muitas regiões ainda não foram estudadas e foi precisamente para aí que uma equipa internacional de investigadores – coordenados por cientistas da UCL, universidade pública em Londres, Universidade de Cambridge e pela Zoological Society of London (ZSL) – decidiu viajar, equipada com aparelhos de captação de sons.

Para o estudo, publicado hoje na revista Methods in Ecology and Evolution, os investigadores visitaram algumas das zonas mais perigosas do México – como os desertos ou as florestas tropicais -, e recolheram um total de 4.685 chamamentos de 1.378 morcegos de 59 espécies. Com estes sons criaram uma biblioteca de sons que abrange todas as famílias de morcegos do México e cerca de metade das espécies do país.

Além da biblioteca de referência de sons de morcegos, a equipa desenvolveu uma nova forma de classificar esses sons, através de um software que cruzou algoritmos com dados sobre cada espécie. O objectivo é conseguir identificar rapidamente as diferentes espécies.

Os investigadores dizem que o método pode ser usado para monitorizar as alterações na biodiversidade e completar informação sobre a distribuição das espécies de morcegos em regiões remotas e pouco estudadas do México. Também poderá ser usado em outras zonas da América Central e do Sul, Caraíbas e Florida.

“Os censos através dos sons estão a ser cada vez mais usados para monitorizar as alterações da biodiversidade”, disse em comunicado a cientista que coordenou o estudo, Veronica Zamora-Gutierrez, da UCL e da Universidade de Cambridge. “Os morcegos são especialmente úteis porque são espécies indicadoras, contribuindo de forma significativa para o equilíbrio dos ecossistemas como polinizadores, dispersores de sementes e supressores de populações de insectos”, acrescentou.

“Ao identificar e estudar os sons que usam para explorar o meio envolvente, podemos caracterizar as comunidades de morcegos em diferentes regiões a longo prazo e aferir do impacto das alterações ambientais”, concluiu.

Mas o trabalho desta equipa ainda agora começou. Os investigadores já estão a planear melhorar o software e querem criar um programa de monitorização com base na ciência cidadã (citizen science).

 

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.