Chapim-real (Parus major). Foto: Luc Viatour/Wiki Commons

Cientistas descobrem como é que as aves aprendem a evitar presas tóxicas

Uma equipa internacional de investigadores colocou chapins-azuis e chapins-reais à experiência no campo para perceberem como é que os mais novos ficam a saber o que não devem comer.

Cientistas da Finlândia, Nova Zelândia, Colômbia e Reino Unido comprovaram que há aves que aprendem a saber o que comer e o que evitar, como é o caso de insectos de cores vivas, que podem ter um sabor repelente ou mesmo ser tóxicos.

“Sabíamos há muito tempo que os predadores, como é o caso das aves, associam sinais de aviso como cores vivas ao perigo de comerem certos tipos de presas. No entanto, nunca tínhamos conseguido demonstrar em meio natural como é que os predadores aprendem sobre esse anúncios aposemáticos das presas”, explicou um dos autores principais do artigo publicado na revista Nature Communications, Rose Thorogood. O aposematismo acontece quando um animal adopta cores vivas como defesa contra possíveis predadores.

“Se os predadores não reconhecerem o sinal, então as presas são altamente vulneráveis face a predadores ingénuos. Esse é um grande problema que as presas enfrentam ano após ano, quando surgem os predadores juvenis”, acrescentou a investigadora da Universidade de Helsínquia. “Como o aposematismo está muito espalhado na natureza, quisemos resolver esta questão num cenário real.”

Numa série de experiências em campo desenvolvidas por uma estudante de doutoramento da Universidade de Cambridge, a equipa decidiu testar a teoria da transmissão social de informação e identificar as possíveis implicações para as relações entre predadores e presas.

Foram colocados pares de alimentadores numa zona de bosque: um com pedaços de amêndoas de sabor natural (presas indefesas, o outro com pedaços de amêndoa de cores diferentes e sabor amargo (presas aposemáticas). Chapins-azuis e chapins-reais de populações da zona podiam reunir-se em volta e apanhar comida, mas também observar as tentativas uns dos outros.

Nos intervalos de tempo entre estas experiências, os alimentadores tinham apenas pedaços de amêndoa de sabor natural, e o comportamento das aves continuou a ser seguido. Isso foi possível através do uso de tecnologia RFID, que permitiu localizar os chapins através de radiofrequência.

Desta forma, os cientistas observaram que as aves aprenderam a evitar as amêndoas amargas passados oito dias, mas os adultos aprenderam mais depressa do que os juvenis. “Importante é que a informação sobre as amêndoas amargas pareceu fluir através de ligações sociais previstas, especialmente dos adultos para os juvenis. Isso oferece uma solução para o problema dos predadores ingénuos, pois podem aprender a observar o comportamento de outros e não por tentativa e erro”, considerou a equipa, concluindo que “desta forma as pressões de selecção sobre as presas aposemáticas fica reduzida”.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.