Cientistas descobrem “espécie espectacular de morcego” em África

Uma equipa de cientistas descobriu uma nova espécie para a Ciência de um morcego em tons laranja e pretos numa cadeia montanhosa de África, foi recentemente revelado.

Os investigadores – liderados pelo Museu Norte Americano de História Natural e pela Bat Conservation International – descrevem o morcego Myotis nimbaensis num artigo publicado a 13 de Janeiro na revista American Museum Novitates.

“Numa era de extinções, uma descoberta como esta oferece-nos esperança”, comentou, em comunicado, Winifred Frick, cientista da Bat Conservation International e professora na Universidade de Califórnia (Santa Cruz).

“É um animal espectacular. Tem o seu pêlo de um laranja vivo e, porque é tão distinto, isso levou-nos a perceber que ainda nunca tinha sido descrito para a Ciência. Descobrir um novo mamífero é raro. Tem sido um sonho meu desde criança.”

Myotis nimbaensis. Foto: Bat Conservation International

Em 2018, Frick e os seus colegas da Bat Conservation International e da Universidade de Maroua, nos Camarões, estavam nas Montanhas Nimba, na Guiné, em trabalho de campo nas grutas naturais e túneis de minas construídos nos anos 1970 e 1980 e que, desde então, têm sido colonizados por morcegos.

Os investigadores queriam compreender que espécies de morcegos usam esses túneis e em que alturas do ano.

Muitos desses túneis estão em diferentes fases de colapso e vão desaparecer com o tempo.

Um dia, durante esse trabalho de campo, os investigadores descobriram algo peculiar: um morcego que não se parecia com nenhum outro conhecido para aquela região. Ao final da tarde, telefonaram para Nancy Simmons, especialista em morcegos do Museu Norte-Americano de História Natural, para pedir ajuda.

“Assim que olhei para ele, concordei que se tratava de algo novo”, disse Simmons, autora principal do artigo e membro da Bat Conservation International. “Depois começou o longo caminho de documentar e reunir todos os dados necessários para provar que esta é, sem dúvida, uma espécie nova.”

Esse trabalho passou por dados morfológicos, de ecolocalização e genéticos e pela comparação com espécimes das colecções daquele Museu, do Museu de História Natural Nacional Smithsonian e do Museu Britânico.

A espécie acabou por receber o nome científico de Myotis nimbaensis (“de Nimba”), em referência à cadeia montanhosa na qual foi encontrado. As montanhas Nimba são conhecidas como as “ilhas do céu africanas”, com picos a elevar-se aos 1.750 metros acima do nível do mar. São a casa de uma biodiversidade excepcional, incluindo morcegos.

Esta investigação faz parte de um esforço actualmente em curso para ajudar os morcegos da cadeia montanhosa de Nimba a sobreviver. A Bat Conservation International e a companhia mineira local (Société des Mines de Fer de Guinée) já começaram a colaborar para construir novos túneis, reforçados para durarem por séculos, e para melhorar habitats.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.