Foto: MarAlliance

Cientistas descobrem nova espécie de tubarão

Uma nova espécie de tubarão, Squalus clarkae, foi descoberta para a Ciência nas águas do Golfo do México e no Oceano Atlântico Ocidental. Os investigadores deram-lhe o nome de uma bióloga marinha pioneira, Eugenie Clark.

 

A confirmação da nova espécie foi publicada este mês na revista científica Zootaxa. Este tubarão pertence à família Squalidae da qual faz parte, por exemplo, o tubarão-anão (Squaliolus laticaudus), que ocorre nos Açores.

Até agora acreditava-se que esta espécie era o tubarão Squalus mitsukurii. Mas, usando novas técnicas genéticas e de morfologia, uma equipa de investigadores descobriu e classificou este tubarão como uma nova espécie.

 

Foto: MarAlliance

 

“Os tubarões de profundidade são todos moldados por uma pressão evolutiva semelhante. Por isso acabam por se parecer muito uns com os outros”, explicou Toby Daly-Engel, bióloga especialista em tubarões no Florida Institute of Technology. “Por isso, dependemos do ADN para saber há quanto tempo uma espécie existe, do ponto de vista da evolução, e o quão diferente é.”

Mariah Pfleger, bióloga da Oceana e que também participou na investigação, considera que “este tipo de trabalho é essencial para a conservação dos tubarões”. Actualmente, estes animais enfrentam uma série de ameaças, desde a sobre-pesca à captura acidental e ao mercado mundial de barbatanas de tubarão.

“Muitas pescarias estão a começar a pescar em águas cada vez mais profundas e, infelizmente, sabe-se muito pouco sobre as muitas criaturas que ali vivem”, acrescentou. “O primeiro passo para conservar estas espécies com sucesso é descobrir primeiro o que existe nas águas profundas.”

Mas para Daly-Engel, esta descoberta vai para além da Ciência. Foi uma oportunidade para prestar homenagem a Eugenie Clark.

 

Quem foi Eugenie Clark?

Era conhecida, carinhosamente, por “Senhora Tubarão”. Eugenie Clark (1922 – 2015) foi pioneira na biologia e comportamento dos tubarões. Também foi pioneira por ser uma das primeiras mulheres de extrema relevância no mundo da biologia marinha, dominado por homens.

 

Eugenie Clark mede um tubarão no Laboratório Marinho em Cape Haze. Foto: Mote Marine Laboratory

 

“Ela é a mãe de todos nós”, comentou Daly-Engel. “Não só foi a primeira mulher bióloga a trabalhar com tubarões como foi uma das primeiras pessoas a estudar estes animais.”

Clark, ictióloga e autoridade mundial em peixes – especialmente em tubarões e peixes tropicais -, fundou o Mote Marine Laboratory, em 1955, e continuou a estudar a vida marinha até ter falecido em 2015, aos 92 anos.

Exploradora intrépida, Clark participou em 72 mergulhos com submersíveis e coordenou mais de 200 expedições em locais como o Mar Vermelho, Caraíbas, México, Japão, Ilhas Salomão, Tailândia e Indonésia.

“Genie era chamada ‘Senhora Tubarão’ porque a sua investigação era muito inovadora e porque se dedicou a partilhar a verdade sobre os tubarões”, comentou Robert Hunter, director do Centro para a Investigação em Tubarões no Mote Marine Laboratory.

“As suas descobertas inspiraram pessoas em todo o mundo para quererem compreender e proteger estes fascinantes animais.”

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Os tubarões são animais com crescimento lento, tardia maturidade sexual e baixo número de descendentes.

Em Portugal, estima-se que existam cerca de 50 espécies de tubarões e raias. Ainda pouco se sabe sobre elas. Mas sabe-se, por exemplo, que há uma delas que pode estar a desaparecer do Atlântico. Saiba mais aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.