Abelha. Foto: Suzanne D. Williams/Pixabay

Cientistas descobrem que é possível detectar no ar o ADN de insectos

Cientistas da Universidade de Lund, na Suécia, descobriram, pela primeira vez, que é possível detectar no ar o ADN de insectos como abelhas, borboletas, vespas ou formigas.

Usando amostras de ar de três locais na Suécia foi possível identificar ADN de 85 espécies de insectos, desde abelhas, vespas, borboletas, formigas, moscas e besouros. Mas não só. Este estudo detectou também espécies de vertebrados, incluindo aves, mamíferos e algumas espécies domésticas.

Foto: Joana Bourgard

Os investigadores acreditam que esta descoberta oferece grandes oportunidades para monitorizar a biodiversidade terrestre de uma forma inteiramente nova.

Os resultados desta investigação, que ainda não estão publicados em nenhuma revista científica, vão ser apresentados via online por Fabian Roger, actualmente a trabalhar na universidade pública ETH em Zurique, na conferência Ecology Across Borders, que decorre de 13 a 15 de Dezembro em Inglaterra. Neste evento, mais de 1.000 ecólogos estão a debater as mais recentes inovações na área da Ecologia.

Em muitas regiões, os insectos estão em declínio e um ritmo alarmante. Para agravar a situação, sabe-se ainda muito pouco sobre o número de espécies que existem no planeta. “Actualmente estão descritas para a Ciência um milhão dos 5,5 milhões de espécies de insectos na Terra. Isto significa que é vital desenvolver formas eficientes de monitorizar a biodiversidade”, consideram os investigadores em comunicado.

Foto: Pixabay

“Perante a crise da biodiversidade, precisamos desesperadamente de melhor informação sobre o estatuto e a distribuição das espécies”, comentou Fabian Roger. “O nosso estudo é a prova de que podemos detectar ADN de insectos e vertebrados a partir do ar recolhido em condições naturais.”

Na sua opinião, “isto abre muitas possibilidades entusiasmantes para monitorizar e detectar espécies, o que nos permite monitorizar a biodiversidade a maiores escalas espaciais e temporais”.

De acordo com esta equipa de investigadores, recolher amostras de ADN do ar tem benefícios em relação aos métodos de amostragem tradicionais. Os insectos são normalmente amostrados usando armadilhas, o que leva à morte destas criaturas. Alternativas, como a realização de transectos e redes, exigem conhecimento taxonómico e geralmente focam-se nas espécies maiores de insectos.

Uma ferramenta de metabarcoding funciona como um código de barras de ADN (ou RNA) que permite a identificação simultânea de muitas espécies dentro da mesma amostra. Assim, este método poderá acelerar as amostragens e permitir aos investigadores aumentar a sua capacidade para fazer censos à biodiversidade. E isto sem prejudicar as espécies.

Neste estudo, quando os investigadores compararam os resultados com os censos tradicionais, descobriram algumas discrepâncias nas espécies detectadas. Houve algumas espécies que não foram encontradas pelos métodos tradicionais mas também muitas espécies não foram detectadas pelo novo método. Por exemplo, os cientistas descobriram 48 espécies de borboletas nocturnas em armadilhas e nove espécies através do ADN recolhido do ar.

Como este método ainda só agora está a dar os primeiros passos, os investigadores estão confiantes em conseguir afinar e melhorar esta ferramenta.

“Dado o enorme desafio que é monitorizar milhões de espécies na Terra, esta é, sem dúvida, uma situação em que precisamos dos esforços de todos e onde métodos diferentes podem complementar-se, com as suas forças e as suas fraquezas”, comentou Fabian Roger.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.