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Rã adulta da nova espécie Hyloscirtus hillisi. Foto: Gustavo Pazmiño/BIOWEB Ecuador

Cientistas descobrem rã “extraordinária” nas montanhas dos Andes

A equipa de cientistas descobriu a nova rã arborícola durante uma dura expedição de duas semanas na região da Cordillera del Condór, uma zona de planaltos ainda muito pouco explorada da cordilheira dos Andes Equatorianos.

 

“Para chegar ao planalto, andámos durante dois dias ao longo de um terreno íngreme. Depois, suados e exaustos, chegámos ao planalto onde encontrámos uma floresta anã. Os rios tinham águas escuras e as rãs sentavam-se ao longo das margens, em ramos de arbustos castanhos, de cores semelhantes às das próprias rãs. As rãs foram difíceis de encontrar, porque se confundiam com o cenário à sua volta”, recordou um dos biólogos que participou nesta saída de campo, Alex Achig, citado no site EurekAlert.

A equipa encontrou um outro dado curioso. Na base dos polegares, a rã em questão apresenta uma estrutura “extraordinária”, com forma semelhante à de uma garra. “A sua função é desconhecida, mas pode ser que seja usada ou como defesa contra predadores ou como uma arma em lutas entre machos”, afirmam os cientistas que descreveram pela primeira vez a nova espécie, ligados à Universidade Católica do Equador.

 

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Rã adulta da nova espécie Hyloscirtus hillisi. Foto: Gustavo Pazmiño/BIOWEB Ecuador

 

Santiago R. Ron, Marcel Caminer, Andrea Varela e Diego Almeida estudaram o anfíbio, tanto em termos genéticos como morfológicos, e concluíram que esta rã arborícola de cor escura e pintas amarelas era até agora desconhecida para a ciência.

O artigo em que descrevem a nova Hyloscirtus hillisi foi publicado em Dezembro na revista científica ZooKeys. A rã foi assim baptizada em honra de um investigador norte-americano, David Hillis, membro da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos da América, que descobriu três espécie de rãs no mesmo género durante a década de 1980, durante uma série de viagens feitas nos Andes do Sul do Equador.

Mas a nova espécie, apesar de ter sido só agora encontrada pelos cientistas, está já em risco. Os investigadores sugerem que deverá ser considerada Criticamente em Perigo de extinção, devido ao pequeno número de rãs encontradas e ao facto de ocupar uma pequena área de distribuição, próxima de uma operação mineira de larga escala entregue a uma companhia chinesa, a Ecuacorrientes SA.

Em causa está o projecto Mirador, uma mina a céu aberto com o objectivo de extrair cobre, prata e ouro, com impactos ambientais que têm sido analisados e descritos pela Amazon Conservation, uma organização não governamental.

A região da Cordillera del Condór começou só há poucos anos a ser percorrida por investigadores, depois de terem terminado os conflitos entre o Equador e o Perú. Desde então foram ali descobertas várias espécies de anfíbios, mas os cientistas da Universidade Católica do Equador acreditam que não vai ficar por aqui: “Novas expedições vão provavelmente resultar em mais descobertas, uma vez que [o local] se mantém largamente inexplorado.”

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Veja aqui um pequeno vídeo da nova rã, no seu habitat natural.

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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.