Cientistas descrevem nova espécie de carnívoro ibérico que viveu há 9 milhões de anos

Chama-se Circamustela peignei e é um pequeno carnívoro que viveu na Península Ibérica há nove milhões de anos. A espécie foi descrita por uma equipa internacional de investigadores.

 

Este carnívoro é da família dos Mustelídeos, à qual pertence, por exemplo, a doninha (Mustela nivalis).

Os fósseis desta nova espécie agora descrita para a Ciência foram encontrados na jazida de Batallones-3 e 5 no Cerro de los Batallones, na localidade de Torrejón de Velasco (Madrid).

A descrição da nova espécie, revelada num artigo científico publicado na revista Geodiversitas, foi possível graças aos restos dentais e do crânio de quatro indivíduos Circamustela peignei .

 

 

“A princípio acreditámos que se tratavam de restos de outra espécie, descrita em 1967 através de fósseis encontrados em Can Llobateres (Valle del Penedès, Barcelona). Mas as características dos dentes mostraram que se tratava de uma espécie mais primitiva”, explicou, em comunicado, o investigador Jorge Morales, do Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais (MNCN-CSIC), que participou no estudo.

Para chegar a esta conclusão, os investigadores estudaram os fósseis encontrados e recorreram ainda a técnicas como a tomografia computerizada de raios X (micro CT-SCAN), que permitiu ver o interior do ossos e partes difíceis de ver a olho nu.

“Esta nova espécie de mustelídeo, de tamanho semelhante à marta ou à fuinha, tem uma dentição mais delgada e aguçada, adaptada a um maior consumo de carne em comparação com outros mustelídeos semelhantes que conviveram com ela há 9 milhões de anos”, disse Alberto Valenciano, investigador do Museu Iziko da África do Sul.

Na sua opinião, “estas características permitem-nos inferir que foi um carnívoro cuja dieta era mais especializada que as martas dos nossos dias, que têm uma dieta mais ampla”, acrescentou.

De acordo com Morales, “esta investigação completa e aumenta a diversidade de carnívoros conhecida na jazida de Batallones”.

Além dos grandes carnívoros – como tigres, dentes de sabre e ursos – que viveram na região de Madrid há 9 milhões de anos agora sabe-se que também ali viviam carnívoros médios e pequenos, como martas, texugos e outros mustelídeos. Segundo Morales, “haverá lugar a novas surpresas no futuro, sem dúvida”.

Cerro de los Batallones é uma das jazidas mais importantes do Miocénio da Eurásia e África, com uma grande diversidade de carnívoros e outros vertebrados terrestres. Tem sido estudada há quase 30 anos. Segundo o MNCN-CSIC, esta é uma “janela excepcional para o conhecimento da fauna que povoava o centro da Península Ibérica há 9 milhões de anos”.

Todos os anos, investigadores fazem escavações naquela jazida, para tentar “descobrir novas espécies que nos dêem pistas sobre como evoluiu a vida no planeta até se tornar naquilo que conhecemos hoje”.

Participaram na descrição da Circamustela peignei investigadores do MNCN-CSIC, do Institut Català de Paleontologia Miguel Crusafont, do Museu Iziko da África do Sul, entre outras instituições.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.