Foto: PedroPVZ/Wiki Commons

Cientistas esclarecem que lesmas do mar nas praias do Algarve são inofensivas 

As lesmas do mar são inofensivas, esclareceu à Wilder Gonçalo Calado, do Instituto Português de Malacologia (IPM). Na semana passada, a Administração Regional de Saúde do Algarve (ARS) fez uma advertência aos banhistas para as picadelas destes invertebrados.

 

Se algum dia encontrar na água das praias do Algarve uma lesma do mar, a única coisa que deve fazer é apreciá-la e não a retirar da água, porque seca e morre, disse hoje à Wilder Gonçalo Calado, director do Departamento de Ciências da Vida da Universidade Lusófona e especialista nestas espécies marinhas. Estes invertebrados são inofensivos.

 

Foto: PedroPVZ/Wiki Commons

 

Na quarta-feira passada, a Administração Regional de Saúde do Algarve (ARS) emitiu um comunicado onde dizia que nos últimos dias se tinha registado um aumento da afluência de cidadãos à Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Quarteira e ao Serviço de Urgência Básica de Loulé. Os utentes queixavam-se “de dor localizada, queimadura, ardor e comichão, após terem sido picados por invertebrados marinhos, tipo lesmas do mar, nas praias entre Quarteira e Quinta do Lago, nomeadamente na praia do Forte Novo”.

Tendo em conta a “concentração destes invertebrados marinhos” nas praias entre Quarteira e Quinta do Lago, a ARS recomendava especial atenção e a necessidade de “evitar o contacto, dentro ou fora da água” com aqueles invertebrados.

Mas, segundo o IPM, “esta advertência da ARS Algarve sobre as lesmas do mar não tem qualquer razão de ser”, segundo uma nota divulgada neste domingo.

“Não são as lesmas do mar a causar qualquer tipo de urticária”, esclarece o instituto, que apela a todos os banhistas para que “não lhes façam mal e as deixem dentro de água”.

“É lamentável que um Delegado de Saúde possa assinar tal comunicado. Já pedimos um desmentido”, disse Gonçalo Calado.

Segundo este especialista, não está a haver uma concentração maior destes invertebrados naquela região do Algarve. “É perfeitamente natural nesta altura do ano. Às vezes acontece um pouco mais tarde, em Setembro. Mas faz parte do ciclo de vida de algumas espécies de lesmas do mar.”

Entretanto, a ARS já terá retirado a advertência do seu site.

A lesma do mar em questão deverá pertence à espécie Aplysia fasciata, a maior e a mais comum das quatro espécies do género Aplysia (também chamadas lebres-do-mar) que ocorrem em Portugal continental. As outras são a Aplysia punctata, Aplysia depilans e a Aplysia parvula.

Segundo Gonçalo Calado, as lebres-do-mar “são herbívoras estritas. Alimentam-se de algas e é aí que se costumam encontrar com mais frequência”. Nos últimos anos têm sido utilizadas como modelos laboratoriais em estudos na área das neurociências.

No geral, estima-se que existam cerca de 250 espécies de lesmas do mar registadas em Portugal Continental. Na Madeira esse número rondará as 112 e nos Açores, 133, segundo este investigador.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Em Dezembro de 2017, um leitor da Wilder encontrou esta lesma do mar no rio Tejo. Saiba mais aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.