tronco de uma árvore com musgo
Foto: Wilder/arquivo

Cientistas estão a encontrar centenas de oliveiras milenárias em Portugal

Uma equipa de investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro avaliou a idade de várias centenas de oliveiras em Portugal e concluiu que a maior parte tem mais de 1000 anos. A Wilder falou com o investigador José Luís Louzada.

 

Entre as oliveiras datadas até hoje pelos cientistas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), através de um novo método patenteado em 2011, há cerca de 200 que já têm cerca de 2.000 anos. A mais antiga é conhecida por ‘oliveira do Mouchão’, classificada em Setembro de 2016, e está situada em Mouriscas, concelho de Abrantes. Conta uns invejáveis 3.350 anos. Seguem-se uma oliveira em Santa Iria de Azóia (2.850 anos) e uma outra em Monsaraz, com 2.450 anos.

Estas árvores “conseguem ter esta longevidade porque as oliveiras estão em constante rejuvenescimento”, explicou à Wilder o investigador responsável pela equipa da UTAD que desenvolveu o novo método, José Luís Louzada. “A parte viva não tem 2.000 anos, pois as partes mais antigas vão sendo eliminadas e as células vão-se rejuvenescendo. É por isso que têm uma capacidade de produção idêntica à de uma árvore jovem.”

 

oliveira com o tronco oco
Oliveira do Mouchão, com 3.350 anos. Foto: D.R.

 

As oliveiras mais antigas caracterizam-se por terem perdido a parte central do tronco, que fica oca. Essa foi uma das dificuldades para os cientistas, que tiveram de criar um método alternativo a técnicas mais tradicionais na datação das árvores, como é por exemplo a contagem dos anéis do tronco. Até porque nas oliveiras, ao contrário de outras espécies, cada anel não corresponde a um ano.

O que fizeram? Através da análise de cerca de 600 oliveiras – derrubadas devido à construção da barragem do Alqueva e de novas vias rodoviárias no Alentejo – calcularam como é que crescem estas árvores à medida que os anos passam, naquelas condições de solo e de clima. “À medida que as árvores envelhecem, há uma camada de células na parte exterior da árvore que está sempre a aumentar o seu tamanho”, descreveu José Luís Louzada.

A equipa da UTAD demorou cerca de cinco anos a desenvolver este modelo matemático, entre trabalhos de campo e de laboratório. Primeiro para as oliveiras do Alentejo; entretanto também para as do Douro e do Sul de Espanha, com base nas diferentes condições do solo e do clima. “É nestas regiões que actualmente conseguimos fazer a datação.”

Além das oliveiras de Abrantes e de Santa Iria de Azóia, os cientistas já classificaram até agora várias em Monsaraz, em Estremoz, Montemor-o-Novo, Lagoa, Beja, Vila Moura, Évora, no Parque de Serralves (Porto), entre outros pontos do país. No estrangeiro, já avaliaram a idade de oliveiras em Bordéus, Girona, Málaga e também na Ilha de Menorca, onde encontraram uma árvore com 2.310 anos.

 

Investigação financiada por empresário

Foi graças ao desafio lançado por um empresário, André Soares dos Reis, que desenvolveram o novo método. O proprietário da empresa Oliveiras Milenares precisava de certificar a idade das oliveiras ornamentais que vendia nos mercados internacionais, mas não havia como.

“Toda a gente lhe dizia que não havia forma e não havia realmente um método que satisfizesse aquelas premissas. Não podia cortar os troncos, pois isso não seria economicamente viável e compatível com a venda das árvores, e muitos dos troncos aliás estavam ocos”, lembrou o investigador da UTAD.

Foi assim que após várias insistências da parte de André Soares dos Reis, e com financiamento privado, os cientistas meteram mãos ao trabalho. “Fizemos tal e qual como num projecto de investigação.” O resultado permitiu ao empresário montar mais um negócio: assumiu a venda das certificações de oliveiras, com base neste novo método, para outras empresas do ramo.

Quanto a José Luís Louzada, que continua a assegurar a datação das oliveiras, confessa que gostaria de ter oportunidade para desenvolver um método semelhante também para os castanheiros. “Especialmente no Norte, há muitos castanheiros monumentais, alguns maiores ainda do que as oliveiras.”

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Se desejar encontrar as árvores monumentais portuguesas da sua região, muitas delas assim classificadas devido à idade ou dimensão, pode procurar na base de dados do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, aqui.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.