Caravela-portuguesa. Foto: Ianaré Sévi/Wiki Commons

Cinco coisas a saber sobre o bloom nacional de caravela-portuguesa

Por estes dias, qualquer pessoa que vá à praia em Portugal pode encontrar a caravela-portuguesa (Physalia physalis) no areal. Antonina Santos, coordenadora do GelAvista, projecto de registo de gelatinosos, explica o que está a acontecer.

Um alerta nacional

Hoje, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) decidiu emitir um alerta para o bloom nacional de caravelas-portuguesas. “Depois das notícias do fim-de-semana passado sobre a ocorrência de caravelas-portuguesas nas praias da Costa da Caparica e na linha de Cascais, achámos que era melhor dar mais informação às pessoas”, explicou hoje à Wilder Antonina Santos, coordenadora do GelAvista, projecto do IPMA de registo de gelatinosos.

Segundo explicou a especialista, a ocorrência desta espécie em Portugal “é normal” para esta época do ano. “Graças aos dados recolhidos no âmbito do GelAvista, sabemos hoje que o período de ocorrência das caravelas-portuguesas em Portugal começa em Abril e dura até Setembro, Outubro.”

Ainda assim, por estes dias “o número de avistamentos tem sido grande”.

O arrojamento destes seres azulados e com tentáculos que podem atingir os 30 metros “é agora mais generalizado e acontece um pouco mais por todo o lado”.

“Isto talvez seja porque temos hoje mais observadores atentos a fazer registos”, acrescentou Antonina Santos. Hoje o projecto, que começou em 2016, tem 375 observadores em todo o país. “Estamos muito contentes com esta adesão.”

O que está a acontecer às caravelas-portuguesas?

Actualmente ainda pouco se sabe sobre a biologia desta espécie. Mas, segundo Antonina Santos, estes gelatinosos estarão a dar às praias “por causa das correntes oceânicas e das condições das massas de água”. “No entanto, por enquanto, não sabemos exactamente quais as condições que as levam a arrojar.”

Todas as caravelas-portuguesas têm sido encontradas no areal e na linha de marés. “Algumas estarão vivas mas em não muito bom estado, algumas estão já mortas”, explicou.

As caravelas-portuguesas são atiradas para a praia por correntes e ventos. “Tal como o plancton, as caravelas não conseguem fazer face às correntes e ventos e acabam por ser arrastadas para sítios que, muitas vezes, não são os ideais para se desenvolverem”, acrescentou Antonina Santos.

Cuidados a ter se encontrar uma caravela-portuguesa:

Entre as espécies de medusas e outros gelatinosos que ocorrem em Portugal, a caravela-portuguesa é a que exige mais cautela, segundo o GelAvista. “Os seus tentáculos são muito urticantes, capazes de provocar graves queimaduras.”

Por isso, o GelAvista aconselha a que não se toque nos tentáculos, mesmo quando a caravela-portuguesa aparentar estar morta na praia.

Segundo o GelAvista, se entrar em caso de contacto com os tentáculos de uma caravela deve “limpar bem a zona afetada com água do mar e retirar quaisquer pedaços de tentáculos que possam ter ficado presos na pele. Poderá aplicar vinagre e bandas quentes e deverá procurar assistência médica”.

Partilhe os seus registos com a Ciência:

Qualquer ocorrência desta ou de outras espécies de organismos gelatinosos poderá ser comunicada ao programa GelAvista.

Pode enviar a informação de cada avistamento (data, local, número de organismos e fotografia com objeto a servir de escala) para o email [email protected], ou através da aplicação GelAvista disponível na Play Store para sistemas Android.

Mas tenha atenção que a caravela-portuguesa pode ser confundida com outra espécie, a Velella veleja. “Também temos recebido muitos avistamentos desta espécie, que não é tão urticante e é mais pequena”, disse Antonina Santos à Wilder. Ambas são azuis e têm uma espécie de vela.

Desde 2016 que o programa GelAvista tem estado a envolver os cidadãos na Ciência para a recolha de informação sobre a ocorrência ou inexistência de organismos de aspeto gelatinoso na costa portuguesa.

Os dados recolhidos pelos cidadãos são usados para “estudar e compreender a dinâmica dos organismos gelatinosos a larga escala em território nacional para que, no futuro, seja possível a previsão destas ocorrências”.

E prepare-se, porque o Verão é a época do ano que tem maior diversidade de espécies de gelatinosos.

Algumas curiosidades sobre a caravela-portuguesa:

Outrora considerada uma espécie rara na costa portuguesa, a caravela-portuguesa é já uma espécie comum, segundo as informações obtidas pelo GelAVista. 

Em 2016 chegou mesmo a ser a segunda espécie mais avistada. “O ano de 2016 foi um ano atípico, com um Inverno bastante quente, o que indica que poderá ter existido um favorecimento desta espécie”, explicou em Dezembro de 2017 à Wilder Antonina dos Santos.

A caravela-portuguesa é constituída “por vários indivíduos simbióticos (zoóides), cada um com a sua função específica, que funcionam todos juntos como um único organismo”, descreve o GelAvista.

Esta espécie vive na superfície do mar graças ao seu flutuador em forma de “balão” de cor azul e, por vezes, tons lilás e rosa; os seus tentáculos podem chegar aos 30 metros de comprimento.

Tartarugas marinhas e aves marinhas são os seus predadores naturais.


Fique ainda a conhecer melhor quais são e onde andam os organismos gelatinosos da costa portuguesa, neste artigo da Wilder.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.