Clima: os anfíbios e répteis na linha da frente em Portugal

A grande diversidade lusa de espécies de rãs, sapos, tritões, salamandras, lagartos, lagartixas, cobras e cágados arrisca-se a ficar mais pobre com as alterações climáticas. Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa identificaram as 10 espécies endémicas na linha da frente neste combate pela sobrevivência.

 

São animais extremamente sensíveis. Estão espalhados por todo o território, escondidos entre a vegetação ou nas águas de ribeiros, charcos ou lagoas.

Em Portugal vivem 19 espécies de anfíbios e 28 espécies de répteis. Para uns, mais que para outros, as alterações climáticas significam a incapacidade de sobreviver.

A equipa do Centro de Ecologia, Evolução e Alteração Ambiental (ce3c), da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, trabalha para saber que impactos terão as alterações climáticas na biodiversidade portuguesa. Na semana passada, seis investigadores publicaram um artigo científico na revista Regional Environmental Change sobre répteis e anfíbios.

Durante cerca de dois anos analisaram a eficácia de três métodos para estudar o que vai acontecer a estes animais com um clima diferente, tendencialmente menos chuvoso e com temperaturas mais elevadas. E chegaram à conclusão de que as espécies endémicas vulneráveis são a Salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), Tritão-pigmeu (Triturus pygmaeus), Sapo-parteiro-ibérico (Alytes cisternasii), Rã-de-focinho-ponteagudo (Discoglossus galganoi), Sapinho-de-verrugas-verdes-ibérico (Pelodytes ibericus), Rã-ibérica (Rana ibérica), Lagarto-de-água (Lacerta schreiberi), Lagartixa-da-montanha (Iberolacerta monticola), Lagartixa-de-Carbonell (Podarcis carbonelli) e Víbora-de-Seoanei (Vipera Seoanei). O cenário é pior para as espécies que só vivem nas montanhas do Noroeste de Portugal, como a salamandra-lusitânica e a lagartixa-da-montanha.

 

Salamandra-lusitânica. Foto: Albano Soares
Salamandra-lusitânica. Foto: Albano Soares

 

Mas estas são apenas as espécies endémicas; há outras que também estão na linha da frente: Tritão-de-patas-espalmadas (Triturus helveticus), Tritão-marmorado (Triturus marmoratus), Sapo-parteiro-comum (Alytes obstetricans), Sapo-de-unha-negra (Pelobates cultripes), Sapinho-de-verrugas-verdes (Pelodytes punctatus), Sapo-corredor (Bufo calamita), Licranço (Anguis fragilis), Cobra-lisa-europeia (Coronella austriaca), Víbora-cornuda (Vipera latastei), Cobra-de-água-de-colar (Natrix natrix), Cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis) e Cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa).

“Cada metodologia tem vantagens e desvantagens”, disse à Wilder Mário Pulquério, investigador que participou neste estudo, salientando que, até agora, nunca se tinham comparado os métodos para avaliar a vulnerabilidade das espécies às alterações climáticas. “Podemos dizer que os três índices analisados apontam para o mesmo; apenas os detalhes são ligeiramente diferentes.”

Segundo os investigadores, os anfíbios são o grupo mais ameaçado. “A sua reprodução depende da existência de charcos temporários, que são muito afectados pelas alterações de temperatura e pelos níveis de precipitação”, escrevem em comunicado.

Por isso, é importante saber o que poderá acontecer, para adaptar políticas de conservação. “Há espécies que actualmente não são consideradas vulneráveis, mas que face a futuras alterações climáticas se tornam muito vulneráveis”, explica Maria João Cruz, líder da equipa de investigadores.

Este estudo insere-se numa análise mais alargada sobre os impactos das alterações climáticas na biodiversidade em Portugal.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.