Clima, rios e montanhas explicam diversificação da salamandra-de-pintas-amarelas

A salamandra-de-pintas-amarelas (Salamandra salamandra) tem uma ampla distribuição por toda a Europa. Mas as populações ibéricas são as que têm uma maior diversidade de padrões de coloração, tamanhos e formas de reprodução.

Um estudo publicado na revista Molecular Phylogenetics and Evolution, no qual participaram investigadores do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid (MNCN-CSIC), revela que esta espécie terá tido origem na Península Ibérica, dando lugar a linhagens distintas devido ao efeito de factores climáticos e topográficos.

Uma dessas linhagens, correspondente à subespécie Salamandra salamandra almanzoris, apenas se encontra nas zonas altas das montanhas do Sistema Central, mais concretamente nas Serras de Gredos e Guadarrama.

Exemplar de Salamandra salamandra almanzoris em Gredos. Foto: Íñigo Martínez-Solano

Mas como se originou e diferenciou esta linhagem? Uma equipa internacional de investigadores publicou um artigo na revista Heredity que dá algumas pistas para responder a esta perguntas.

“As populações de salamandras estão separadas por barreiras naturais e artificiais. Isto faz com que, ao longo do tempo, as populações acumulem diferenças genéticas que dão lugar ao aparecimento de variedades diferentes ou, até mesmo, de espécies”, explica David Buckley, investigador da Universidade Autónoma de Madrid que participou num dos estudos.

“Entre estas barreiras naturais estão as topográficas, como os rios e as montanhas, e as climáticas, como as diferenças de temperatura e húmidade entre regiões”, acrescentou.

“No Sistema Central encontramos dois grupos historicamente bem diferenciados de salamandras-de-pintas-amarelas que são, além disso, endemismos ibéricos, ou seja, que apenas se encontram na Península Ibérica. São as subespécies Salamandra salamandra almanzoris, localizada em áreas de alta montanha, e a Salamandra salamandra bejarae, de zonas médias e baixas”, disse Íñigo Martínez Solano, investigador do MNCN que participou nas duas investigações.

Gredos, habitat típico da Salamandra salamandra almanzoris. Foto: Íñigo Martínez-Solano

“No estudo publicado na revista Heredity analisámos a conectividade entre as populações de ambas as subespécies e o efeito de factores como a distância geográfica, a topografia ou o clima nas diferenças genéticas observadas entre elas”, detalha Martínez-Solano.

Os resultados mostram que “os factores climáticos e os topográficos estarão a actuar de forma conjunta na diferenciação genética das populações e que aspectos climáticos como a variação dos padrões de precipitação são determinantes neste processo”, conclui o investigador do MNCN.

Segundo os investigadores, estes resultados são de grande importância para a conservação da salamandra-de-pintas-amarelas nas serras do Sistema Central, onde as suas populações estão gravemente fragmentadas. É necessário, defendem ainda, tratar as populações isoladas geograficamente como unidades de gestão independentes.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.