um grupo de corujas
Corujas-das-torres em recuperação no CERVAS, em Gouveia. Foto: CERVAS

Como é que as corujas olham o mundo? Tal como nós

Uma equipa de cientistas de Israel e da Alemanha descobriu que a visão das corujas-das-torres (Tyto alba) é semelhante à dos humanos e de outras espécies de primatas, apesar do cérebro menos complexo.

 

Os resultados da investigação, publicados no Journal of Neuroscience no princípio de Julho, indicam que as corujas veem o mundo a três dimensões – tal como os humanos – e que processam a informação visual de maneiras semelhantes.

“Os humanos não são tão diferentes das aves como podemos pensar”, disse ao New York Times o investigador que liderou este estudo, Yoram Gutfreund, neurocientista no Technion Israel Institute of Technology, em conjunto com colegas da mesma universidade e da RWTH Aachen University, na Alemanha.

Os cientistas testaram como é que as corujas seguem alvos em movimento em diferentes cenários. Concluíram que, tal como os humanos e outros primatas, estas aves interpretam uma imagem agrupando diferentes elementos em conjuntos – isto desde que se estejam a mover na mesma direcção, como por exemplo um bando de aves. Desta forma, têm capacidade para distinguir um objecto de outros que estão em redor.

Até agora, acreditava-se que para essa capacidade de agrupamento eram necessários cérebros mais complexos, pelo que nunca tinha sido testada em aves ou noutros animais que não fossem os humanos e outros primatas.

“As novas descobertas destes efeitos visuais em espécies aviárias, que não têm uma estrutura neocortical [no cérebro], sugerem que a nossa percepção visual básica partilha mais princípios universais com outras espécies do que se pensava”, afirmam os investigadores, no estudo publicado.

 

uma coruja das torres em voo
Foto: Pixabay

 

Para testar as corujas-das-torres, a equipa mostrou-lhes ecrãs com pontos negros que seguiam em diferentes direcções, num cenário cinzento, e prendeu pequenas câmaras às cabeças das aves para lhes seguir a direcção do olhar. Os cientistas mediram por quanto tempo as corujas mexiam as cabeças a seguir um ponto alvo.

Yoram Gutfreund acredita que esta capacidade de agrupar os objectos visualmente é comum entre diferentes animais. “Acho que o sistema visual desenvolveu-se basicamente para identificar alvos tendo em vista comportamentos. É por isso que temos um cérebro”, disse também ao New York Times.

 

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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.