grande plano de águia perdigueira de perfil
Águia-de-Bonelli. Foto: T. R. Shankar Raman/Wiki Commons

Como salvar a águia-perdigueira

Espécie Em Perigo de extinção em Portugal, a águia-perdigueira ou águia-de-bonelli tem um projecto de conservação específico e é cabeça de cartaz do Festival de Observação de Aves a decorrer em Sagres. Saiba o que se pode fazer para salvar esta ave fantástica.

 

Primeiro, as apresentações. A águia-perdigueira (Aquila fasciata) tem uma dimensão média a grande, com entre 55 e 65 centímetros de comprimento e uma envergadura de asa entre os 145 e os 165 centímetros. Tem o peito esbranquiçado com riscas escuras e asas e cauda escura.

É uma espécie Em Perigo de extinção porque tem uma “população muito reduzida (entre 50 e 250 indivíduos adultos)”, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.

 

grande plano de águia perdigueira de perfil
Águia-perdigueira. Foto: T. R. Shankar Raman/Wiki Commons

 

Nos últimos anos tem sido alvo de um projecto de conservação, o LIFE Rupis (2015-2019), um projecto com apoios comunitários, coordenado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea) e realizado no Douro Internacional, na região do Nordeste Transmontano.

Hoje, “a população nacional está numa fase positiva”, disse à Wilder Rita Ferreira, do Grupo de Trabalho em Águia-de-Bonelli. Isto porque se tem registado um aumento do número de casais reprodutores e da sua área de distribuição.

Não se sabe ao certo quantas águias-perdigueiras existem em Portugal. A última estimativa nacional é de 2011 e aponta para um total de 116 a 123 casais. Mas, segundo Rita Ferreira, “alguns censos regionais efectuados posteriormente sugerem que a população actual será maior”.

Este aumento explica-se, em parte, pela “expansão e adensamento da população que nidifica em árvores no Sul do país, o que tem permitido à espécie ocupar zonas onde a disponibilidade de escarpas (tipologia de nidificação mais comum no norte do país e no resto da Europa) é menor”.

 

águia-perdigueira, de frente
Foto: Paco Gómez/Wiki Commons

 

Ainda assim, a águia-perdigueira não está fora de perigo. Em especial, a época de reprodução deste ano não terá corrido bem para a espécie. “Desconhecemos o padrão a nível nacional, mas a época de reprodução de 2018 está entre as piores de sempre para os núcleos populacionais das regiões do Oeste (norte de Lisboa) e do Douro Internacional”, disse a responsável.

Este ano, “poucos casais conseguiram criar devido, aparentemente, às condições meteorológicas adversas durante a fase de incubação e nas primeiras semanas do nascimento das crias – com muito frio e chuva – o que afecta o sucesso de caça dos progenitores e, na ausência destes do ninho, o arrefecimento dos embriões”. “Os 22 casais de ambas as regiões só criaram sete juvenis voadores.”

 

Quatro medidas para salvar a águia-perdigueira

Rita Ferreira enumerou as principais medidas que poderão melhorar a situação desta águia em Portugal, ou seja, garantir a sua sobrevivência e expansão.

O grande objectivo é conseguir proteger as áreas onde faz ninho, diminuir a mortalidade de aves e promover a abundância de presas.

Isto consegue-se com algumas medidas. Uma delas é manter a longo prazo as árvores de grande porte, que utilizam para fazer os seus ninhos, e o habitat em redor.

Outra é assegurar a tranquilidade em redor dos ninhos, quer sejam em árvore ou em escarpa, durante a época de reprodução (que decorre de Dezembro a Junho).

Uma terceira medida é incorporar nas linhas eléctricas dispositivos que evitem a electrocussão. Esta intervenção é especialmente necessária em territórios de reprodução e áreas de concentração de juvenis em dispersão. Actualmente, “esta é uma das principais causas de mortalidade da espécie na Península Ibérica”, salienta Rita Ferreira.

E também é crucial fomentar as condições de habitat para as suas presas selvagens como o coelho-bravo, a perdiz e o pomba-torcaz. A abundância destes animais “afecta o sucesso reprodutor” da águia-perdigueira.

Na opinião de Rita Ferreira, “estas ameaças só podem ser contidas com a monitorização regular dos casais e das ameaças, um maior envolvimento das partes com responsabilidade na sua conservação e uma maior sensibilização das pessoas para a importância de predadores no equilíbrio do ecossistema em que vivemos”.

Actualmente, o LIFE Rupis está a trabalhar para conservar o núcleo reprodutor da águia-perdigueira no Douro Internacional. Mas para trás ficaram outros projectos de conservação, como o que decorreu em 2006 e 2011 (coordenado pelo CEAI) para preservar os principais núcleos reprodutores arborícolas no sudoeste serrano de Portugal.

Desde 2007, o Grupo de Trabalho em águia-de-Bonelli (coordenado pela Spea) tem feito trabalho voluntário para monitorizar os núcleos reprodutores das regiões do Oeste e do Médio Guadiana. Até disso, tem acompanhado potenciais conflitos em toda a área de distribuição da espécie a nível nacional, fomentando a implementação de medidas de conservação junto de dezenas de partes interessadas.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Rita Ferreira sugere-lhe três locais onde poderá observar a águia-perdigueira com alguma facilidade nesta altura do ano:

  • Península de Sagres
  • Lezírias do Tejo
  • Planícies de Castro Verde

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Descubra sete curiosidades sobre esta águia aqui.

Recorde aqui cinco motivos para ir ao Festival de Sagres deste ano e algumas das actividades destacadas pela Wilder, quase todas gratuitas, nas quais vai poder participar.

 

[divider type=”thick”]

Este artigo faz parte de uma série de trabalhos patrocinados pelo Festival de Sagres. O conteúdo é inteiramente da responsabilidade da Wilder.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.