O actor Javier Bardem e o piloto do submarino John Hocevar na expedição à Antárctida. Foto: © Christian Åslund / Greenpeace

Companhias pesqueiras apoiam criação de santuário no oceano Antárctico

A criação de um enorme santuário de vida marinha na Antártica acaba de conseguir um apoio sem precedentes. Ontem foi anunciado que as maiores companhias que pescam krill na região estão prontas para ajudar, no âmbito de uma campanha da Greenpeace.

 

No final de Outubro de 2017, a Greenpeace lançou a campanha “Protect the Antarctic” para promover a criação da maior área protegida do planeta, no oceano da Antárctica. A meta é proteger 1,8 milhões de quilómetros quadrados de oceano no Mar de Weddell – ou seja, cinco vezes o tamanho da Alemanha -, para conservar baleias, pinguins e outra vida selvagem marinha.

Até ao momento, a campanha já recolheu 1.7 milhões de assinaturas de pessoas de todo o mundo. O actor espanhol Javier Bardem é a cara da campanha e em Janeiro fez parte de uma expedição para mostrar a importância e vulnerabilidade da região.

Ontem à noite foi anunciado um apoio crucial a esta causa. Segundo a Greenpeace Internacional, um grupo de companhias que representam 85% da pesca industrial de krill na Antárctica comprometeu-se, voluntariamente, a deixar de pescar em enormes áreas em redor da Península da Antárctica, incluindo nas zonas tampão à volta das colónias de reprodução de pinguins, para proteger a vida selvagem da Antárctica.

O krill é um pequeno crustáceo do qual dependem muitos animais, incluindo pinguins, focas e baleias.

 

O krill é fonte de alimento para inúmeras espécies, desde as baleias às focas e pinguins. Foto: © Christian Åslund / Greenpeace

 

“Um enorme movimento de pessoas em todo o mundo, ao qual se juntaram cientistas, Governos e celebridades, conta agora com as companhias a pescar na Antártica. Esta é uma decisão ousada por parte destas companhias e esperamos que a restante indústria siga o exemplo”, comentou em comunicado Frida Bengtsson, responsável pela campanha da Greenpeace.

Além disso, as empresas – que fazem parte da Association of Responsible Krill (ARK) – vão apoiar o processo científico e político para a criação de uma rede de áreas protegidas marinhas a larga escala na Antárctica, incluindo em áreas onde operam actualmente.

“Salvaguardar o ecossistema da Antárctica no qual operamos faz parte de quem somos. O nosso diálogo constante com os membros da ARK, com cientistas e as ONG de ambiente, incluindo a Greenpeace, é o que torna possível esforços como este. Estamos confiantes em como o compromisso da ARK vai ajudar a garantir que o krill seja uma fonte sustentável e estável de ómega-3 para o futuro”, disse Kristine Hartmann, da Aker BioMarine, a maior companhia pesqueira de krill do mundo.

“Com o nosso compromisso estamos a mostrar que é possível coexistirem zonas de pesca zero e zonas de pesca sustentável. A nossa intenção é apoiar a criação de uma rede de áreas marinhas protegidas a larga escala na Antárctica”, acrescentou Hartmann.

Este anúncio já mereceu reacções, por exemplo da organização WWF. “A WWF felicita a iniciativa da Aker BioMarine e de outros membros da ARK para voluntariamente se comprometerem em proteger a Antárctica e a sua extraordinária vida selvagem”, comentou Chris Johnson, líder do programa Antárctica da WWF. “Uma rede eficaz e completa de áreas marinhas protegidas, em redor do continente, – e que tem de incluir santuários onde a pesca é proibida – é essencial para salvaguardar a biodiversidade e melhorar a sustentabilidade das pescas.

Ainda assim será preciso esperar por Outubro deste ano para conhecer a decisão final sobre a criação deste santuário no oceano Antárctico. A proposta, submetida pela União Europeia e liderada pelo Governo alemão, será votada na reunião da Comissão para a Conservação dos Recursos Vivos Marinhos da Antárctica (CCAMLR) em Hobart, na Tasmânia. Será preciso que todos os 25 Governos da Comissão votem favoravelmente.

Para preparar o processo estiveram reunidos por estes dias em Cambridge, no Reino Unido, equipas de cientistas que estão a preparar os planos técnicos para o santuário no Oceano Antárctico.

Hoje, o actor Javier Bardem reuniu-se com o ministro britânico do Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais, Michael Gove, para conseguir apoio à criação do santuário na Antárctica.

 

Javier Bardem no dia do encontro com o ministro britânico do Ambiente. Foto: © Chris J Ratcliffe / Greenpeace

 

Bardem, que viajou à zona no lendário navio Arctic Sunrise da Greenpeace e mergulhou num submarino aos 270 metros de profundidade, recordou que ficou abismado com a “incrível variedade de cores e de vida” que o rodeava, segundo a agência espanhola EFE.

A campanha levou o actor a abrir uma conta no Twitter – BardemAntartic – para apoiar o esforço de criação do santuário.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.