Lince-ibérico. Foto: MITECO

Comunidade de Madrid está a estudar dois locais para reintroduzir o lince-ibérico

A presidente da Comunidade de Madrid, Díaz Ayuso, anunciou ontem que a região já identificou dois territórios para soltar este felino Em Perigo de extinção, no âmbito de um programa de reintrodução anunciado em Setembro de 2022.

Os dois espaços que cumprem os critérios necessários são o Parque Regional de la Cuenca Alta del Manzanares y el Pardo e a zona sudoeste madrilena, revelou Díaz Ayuso, durante uma visita ao Arco Verde em San Sebastián de los Reyes.

As áreas abarcam também as Zonas de Especial Conservación (ZEC) Cuenca del río Manzanares e a da Cuenca de los ríos Alberche y Cofío. Incluem zonas públicas e de particulares nas regiões de Colmenar Viejo, San Agustín de Guadalix, Tres Cantos ou Hoyo de Manzanares e outros municípios como Robledo de Chavela, Navalagamella ou San Martín de Valdeiglesias.

Lince-ibérico. Foto: MITECO

Aqueles são dois locais que “permitirão realizar uma actuação deste tipo pela sua tranquilidade, com abundantes populações de coelho para a sua alimentação – se bem que necessitadas de algum incremento desta espécie em alguns locais – e com poucas interferências externas para que o lince se instale ali”, explica uma nota oficial da Comunidade de Madrid.

Ao longo deste ano, a Direcção Geral de Biodiversidade da Comunidade de Madrid, em colaboração com peritos na matéria, “vai estudar detalhadamente as características dos dois territórios para avaliar o habitat, especialmente em relação às populações de coelho, e melhorá-los para garantir o êxito do projecto”.

A população de lince-ibérico (Lynx pardinus) bateu um novo recorde com um total de 1.365 animais contabilizados no mais recente censo a esta espécie, revelado em Junho de 2022 pelo Ministério espanhol para a Transição Ecológica e Desafio Demográfico (MITECO).

Dos 12 núcleos populacionais registados em Espanha, cinco ficam na Andaluzia (com 519 indivíduos), três em Castela-La Mancha (473 indivíduos) e quatro na Extremadura espanhola (164 exemplares).

Actualmente, a espécie está extinta na Comunidade de Madrid.

Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

Portugal, com um núcleo populacional no Vale do Guadiana, terá 209 linces: 139 adultos e subadultos (dos quais 31 são fêmeas reprodutoras/territoriais) e 70 crias. Portugal tem assim 15,3% da população ibérica de lince-ibérico.

Anteriormente, João Alves, técnico superior do Departamento de Conservação da Natureza e Biodiversidade do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), revelou à Wilder que em Portugal está prevista a identificação de, pelo menos, mais uma nova área de reintrodução para a espécie. Isto acontece no âmbito do quarto projecto LIFE dedicado à conservação desta espécie Em Perigo de Extinção, o LIFE Lynxconnect – “Criando uma metapopulação de lince-ibérico (Lynx pardinus) genética e demograficamente funcional”.

Esta nova área “deverá estar concluída durante os próximos quatro anos”, comentou. Tudo dependerá da avaliação de um “número muito significativo de variáveis”.

“Para que um dado território possa ser considerado apto para nele ser iniciado um processo de reintrodução de lince-ibérico, tem que previamente ser alvo de um conjunto alargado de avaliações”, explicou o responsável.

Estas vão desde a “existência de extensão e continuidade de habitat adequado, em termos qualitativos e quantitativos, níveis adequados de população da presa preferencial do lince – coelho-bravo – que permitam alimentar os exemplares libertados e a sua descendência, inexistência de patologias infeciosas noutras espécies de fauna que interagem com os linces e que podem constituir risco de insucesso, baixa presença nesse território de vias de comunicação com tráfego considerável ou de outros objectos físicos que possam constituir fatores de risco elevado de mortalidade (atropelamento, afogamento, etc.), até à aceitação social das populações que aí residem ou que aí têm uma atividade económica que possa ser conflituante com a presença do lince ibérico de modo permanente e em termos quantitativos significativos”.

O lince-ibérico é uma espécie classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.