Urso-pardo. Foto: Thomas Wilken/Pixabay

Confirmada presença de um urso-pardo em Portugal

É a primeira vez desde 1843 que se constata, de forma confiável, a presença da espécie em Portugal. Este é um marco para a conservação da população do urso-pardo cantábrico.

Um exemplar isolado de urso-pardo (Ursus arctos) adulto foi confirmado em Portugal, mais concretamente no Parque Natural do Montesinho (concelho de Bragança), informa hoje o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Esta espécie está dada como extinta em Portugal e o último registo confirmado é de 1843, quando um urso-pardo foi abatido no Gerês, segundo o livro “Urso Pardo em Portugal – Crónica de uma extinção“, de Paulo Caetano e Miguel Brandão Pimenta.

Agora, um urso-pardo foi confirmado em Montesinho, numa zona próxima da fronteira com Espanha. Segundo o ICNF, trata-se de, “pelo menos, um indivíduo dispersante da população do Norte de Espanha, muito provavelmente oriundo da subpopulação ocidental da Cordilheira Cantábrica”.

Esta é uma das duas subpopulações da população cantábrica (Lugo, Leão, Astúrias), sendo a maior, com 280 animais registados em 2018. A outra é a subpopulação oriental, com 50 ursos. Além da população cantábrica, Espanha tem apenas mais uma população de urso-pardo, a pirenaica. Ambas estão separadas geograficamente.

Esta é uma história que começou no final de Abril quando se constatou “a existência de danos num apiário na localidade de La Tejera”, no município de Hermisende, na província de Zamora, segundo um comunicado da Junta de Castela e Leão divulgado ontem.

Técnicos da Junta de Castela e Leão das províncias de Zamora e Leão foram até ao apiário e, com a ajuda da apicultora afectada, concluíram que os danos tinham sido causados por um urso-pardo.

“Dada a proximidade com a fronteira portuguesa, a presença do urso foi comunicada ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), porque o animal poderia continuar a sua viagem para Sul, o que veio a acontecer dias depois”, explica o mesmo comunicado.

“É a primeira vez nos últimos 200 anos que se constata de forma confiável a presença desta espécie em Portugal.”

Este urso-pardo “tem sido monitorizado pelo ICNF” naquele território de fronteira, “em articulação com as autoridades homólogas de Espanha”, informa o ICNF.

Segundo a Junta de Castela e Leão, “a julgar pelos indícios detectados, pode ser um adulto em dispersão”. “Este comportamento é normal dado que, segundo os cientistas, alguns indivíduos percorrem distâncias significativas na Cordilheira Cantábrica, que parecem estar ligadas a momentos concretos do seu ciclo biológico.”

“O Serviço Territorial do Ambiente de Zamora vai continuar a trabalhar, em colaboração com os portugueses, nesta linha de seguimento deste animal, que é um marco para a conservação da população do urso pardo cantábrico.”

De acordo com o ICNF, “os últimos registos que evidenciam a presença estável de urso-pardo (Ursus arctus) em Portugal são do séc. XVIII até finais do séc. XIX. Posteriormente, extinguiu-se do nosso território”.   

Em Espanha, nas últimas duas décadas, foram registados movimentos de indivíduos próximos do distrito de Bragança, mais concretamente do Parque Natural de Montesinho. “Estas incursões dizem respeito a machos jovens em dispersão em torno das populações estáveis existentes a norte, na Cordilheira Cantábrica”, salienta o ICNF.

“O ressurgimento de indivíduos desta espécie em Portugal, que já tem vindo a público como provável e ocasional, está agora confirmado pelo ICNF.”


Saiba mais sobre o urso-pardo.

O urso-pardo mede entre metro e meio e dois metros. Os machos podem pesar entre 80 e 240 quilos e as fêmeas entre 65 e 170 quilos.

A população mundial de urso-pardo está estimada em cerca de 200.000 animais. A Rússia tem as maiores populações (estimadas em 120.000 ursos), seguida dos Estados Unidos (32.200, dos quais 31.000 no Alasca) e Canadá (25.000). Há ainda ursos na China e no Japão.

Na Europa, excluindo a Rússia, calcula-se que existam cerca de 14.000 ursos. No Sul da Europa, esta é uma espécie Em Perigo de extinção, com populações pequenas na Grécia, Cordilheira Cantábrica, Abruzzo, Trentino e Pirinéus.


Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.