Lince-ibérico, cria. Foto: Programa Ex-situ (arquivo)

Confirmadas três novas ninhadas de lince em plena natureza

Por estes dias já se conhecem pelo menos três ninhadas de lince-ibérico que nasceram nesta Primavera em plena natureza. Estas novas crias vivem nas áreas de reintrodução espanholas do projecto que quer reconquistar o território perdido pela espécie.

 

A fêmea Mesta teve duas crias na Serra Morena Oriental (Ciudad Real) numa das propriedades do projecto de recuperação de linces na Península Ibérica (Projecto Life Iberlince).

Nesta zona ainda há poucos exemplares (16 linces, segundo o censo de 2016) e estão a ser feitos grandes esforços para reintroduzir a espécie. Para a WWF espanhola, as “duas novas crias são uma excelente notícia”. “Estes dois novos membros fortalecem os números da espécie”, disse ontem em comunicado. “Em 2002 restavam menos de 100 exemplares em toda a Península, agora já são mais de 470.”

Mesta, que foi libertada a 8 de Fevereiro de 2016 naquela zona, poderá ter tido uma terceira cria mas ainda não foi confirmada. O pai será Milvus, um macho territorial.

Ontem, o conselheiro para a Agricultura, Ambiente e Meio Rural de Castela-La Mancha, Franciso Martínez Arroyo, confirmou que a fêmea Kiowa teve duas crias, também na Serra Morena Oriental. Esta fêmea nasceu em 2013 no Centro de Cria de Zarza de Granadilla (Cáceres) e foi libertada em Julho de 2014. No ano passado teve três crias.

A outra ninhada é de Malvasía, uma fêmea primeiriça que vive em Montes Toledo (Castela-La Mancha) e que foi aí libertada em Fevereiro de 2016. Segundo o Iberlince, “depois de um tempo nessa zona, o animal deslocou-se mais para Norte para se fixar no território que actualmente detém e onde cria a sua ninhada de quatro”.

Uma equipa do Iberlince conseguiu gravar imagens de Malvasía com as suas crias. “Estes vídeos enchem-nos de alegria e mostram a ternura e dedicação que estes animais têm pelas suas crias. Desejamos-lhe toda a sorte nesta nova etapa que começam”, escreve o Iberlince, em comunicado nesta quarta-feira.

 

 

Índice de sobrevivência atinge 66% em duas áreas de reintrodução na Andaluzia

Esta semana, o conselheiro para o Ambiente da Junta da Andaluzia, José Fiscal, informou que até ao ano de 2016 foram libertados na Andaluzia 42 linces na área de Guadalmellato (Córdova), dos quais 28 continuam vivos, e outros 44 na área de Guarrizas (Jaén), dos quais 29 sobrevivem. Segundo um comunicado da Junta, estes dados “constatam que o índice de sobrevivência estimado da espécie atinge nestas zonas 66,7% e 65,9%, respectivamente, quando os objectivos fixavam-se nos 50%”.

José Fiscal destacou que a espécie “está hoje mais longe do perigo de desaparecer, devido em grande parte aos programas de reprodução em cativeiro e de reintrodução”.

Actualmente existem 483 linces-ibéricos na natureza, segundo o censo de 2016. A maioria, 397, está nas populações da Andaluzia (Doñana-Aljarafe e Serra Morena: Guadalmellato, Guarrizas e Andújar-Cardeña).

Este trabalho está a ser reconhecido a nível europeu. O projecto Iberlince “Conservação e reintrodução do lince-ibérico na Andaluzia” (2006-2011) foi nomeado, juntamente com outros quatro projectos Life, para receber os “Green Awards” na categoria Natureza e Biodiversidade, galardão com o qual a Comissão Europeia vai distinguir os melhores projectos do programa Life dos últimos 25 anos, desde que o programa começou (1992-2017). Além do projecto do lince estão a concurso os projectos AlterIAS, Life+Saber The Raptors, BurrenLIFE e SloWolf. Os dois projectos vencedores serão escolhidos por votação popular através de uma página no Facebook da Comissão Europeia. Os vencedores são conhecidos a 30 de Maio.

Ainda assim, nem tudo são boas notícias. Ontem de manhã, agentes ambientais localizaram um exemplar de lince-ibérico, possivelmente atropelado, na província de Toledo. O cadáver do animal foi encontrado perto da estrada CM-410, no troço entre Mazarambroz e Cuerva. “Os dados preliminares apontam que este é um jovem macho nascido em Montes de Toledo no ano passado”, informa o Iberlince. Agora resta esperar pelos resultados da necropsia.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.