Conheça as 10 aves mais ameaçadas da Europa

Pode chegar o dia em que a Europa acorde mais silenciosa e monótona. Uma em cada oito das espécies de aves que aqui vivem ou que por aqui passam, está ameaçada. Há dez que estão especialmente perto de deixar de existir.

 

Pardela-do-Mediterrâneo (Puffinus mauretanicus), maçarico-de-bico-fino (Numenius tenuirostris), toirão (Turnix sylvaticus), escrevedeira-aureolada (Emberiza aureola), abetarda de MacQueen (Chlamydotis macqueenii), abibe-sociável (Vanellus gregarius), bufo-pescador-castanho (Ketupa zeylonensis), águia-das-estepes (Aquila nipalensis), calhandra-negra (Melanocorypha yeltoniensis) e calhandra-do-deserto (Ammomanes deserti).

Abibe sociável. Foto: Adrian Drummondhill/Birdlife Europe
Abibe sociável. Foto: Adrian Drummondhill/Birdlife Europe

 

São precisos momentos como este para ouvirmos falar de algumas aves pela primeira vez.

Ontem foi apresentada a Lista Vermelha das Aves da Europa e estas espécies são as mais ameaçadas de entre as 533 que vivem neste continente, vendo-se classificadas como Criticamente em Perigo de Extinção.

 

Maçarico-de-bico-fino. Foto: RSPB/Birdlife Europe
Maçarico-de-bico-fino. Foto: RSPB/Birdlife Europe

 

Estão com extremas dificuldades em adaptar-se às alterações do uso do solo, especialmente na agricultura, e à caça ilegal. Além destas causas, as principais, há outras, como a poluição, as alterações climáticas e as espécies exóticas invasoras, conclui a Lista Vermelha, depois de três anos de trabalho.

Além destas dez espécies, 18 estão Ameaçadas e 39 estão Vulneráveis.

Desde 2004 entraram mais 29 espécies para esta lista vermelha, como a rola-brava (Streptopelia turtur), o papagaio-do-mar (Fratercula arctica) e o ostraceiro-europeu (Haematopus ostralegus).

 

Papagaio-do-mar. Foto: Gerry Kerr/Birdlife Europe
Papagaio-do-mar. Foto: Gerry Kerr/Birdlife Europe

 

Portugal faz parte da lista dos cinco países com maior número de espécies ameaçadas (22 espécies), atrás da Rússia (38), Turquia (35), Espanha (26) e Azerbaijão (23).

A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea) chama a atenção para a situação da pardela-balear, freira-da-madeira, britango, priolo, sisão e águia-imperial.

 

Freira-da-madeira. Foto: Filipe Viveiros/Birdlife Europe
Freira-da-madeira. Foto: Filipe Viveiros/Birdlife Europe

 

“É chocante o caso das espécies que eram comuns mas que têm vindo a regredir fortemente há vários anos, continuando a ser ignoradas pelos decisores políticos”, diz Luís Costa, director-executivo da Spea, em comunicado. Entre elas, destacam-se as espécies cinegéticas, como a rola-brava, o zarro, a piadeira, o arrabio, o tordo-zornal e o tordo-ruivo. “São todas espécies ameaçadas na União Europeia, para as quais é urgente a suspensão da caça em Portugal”, defende.

Mas nem tudo são más notícias. Há aves que na última década deixaram de ter um estatuto de ameaçadas na União Europeia, como a abetarda e o francelho. Luís Costa atribui a recuperação das espécies aos “esforços de conservação realizados, da aplicação das diretivas Aves e Habitats e da implementação do programa LIFE da Comissão Europeia”.

 

Francelho. Foto: Bernard Dupont/Birdlife Europe
Francelho. Foto: Bernard Dupont/Birdlife Europe

 

A Lista Vermelha das Aves Europeias – com dados sobre o tamanho, a tendência populacional e a distribuição de cada espécie de ave selvagem na Europa – utiliza os critérios da UICN (União Mundial para a Conservação da Natureza) para medir o risco de extinção de uma espécie e aplica-os a nível regional.

“Esta lista é mais um aviso de que a natureza na Europa está com problemas”, disse Martin Harper, director de Conservação da britânica Royal Society for the Protection of Birds (RSPB), uma das entidades que ajudou a elaborar a Lista Vermelha.

Karmenu Vella, comissário europeu para o Ambiente, Pescas e Política Marítima, é da mesma opinião. “Este relatório contém estatísticas preocupantes”, disse, em comunicado. “A nossa tarefa é encontrar formas de espalhar os casos de sucesso para outras áreas.”

Esta lista foi coordenada pela Birdlife International (federação da qual a Spea faz parte) com a ajuda de sete entidades internacionais, como a UICN e a britânica Royal Society for the Protection of Birds (RSPB).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.