Conheça as cinco sugestões do GEOTA para proteger florestas portuguesas

Floresta. Foto: Aymanjed Jdidi/Pixabay
Foto: Aymanjed Jdidi/Pixabay

“De ano para ano parece não haver acções no terreno que ajudem a proteger as florestas portuguesas”, alerta o GEOTA. A organização que está a renaturalizar florestas em Monchique, Leiria e na Serra da Estrela deixa cinco sugestões do que se pode fazer.

Este ano, de 1 de Janeiro a 24 de Maio, já arderam mais de 8.500 hectares, segundo o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). No ano passado arderam um total de 110.000 hectares de floresta.

“Os fogos florestais são um fator ecológico do clima mediterrânico, por isso, praticamente inevitáveis, mas não precisam de atingir as dimensões que verificamos todos os anos”, comentou hoje, em comunicado, Isabel Moura, vice-presidente do GEOTA (Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e do Ambiente).

As causas dos incêndios são conhecidas. “O clima mediterrânico, o abandono agrícola, a desertificação humana do interior, a falta de ordenamento florestal, a estrutura de posse da terra (maioritariamente privada), a falta de aplicação do conhecimento científico. A isto tudo soma-se a mudança climática”, enumera a organização.

No total, 78% das ignições do ano passado resultam diretamente da ação humana “o que demonstra a necessidade de mais campanhas de sensibilização e alerta”.

Segundo o GEOTA é preciso apoiar o desenvolvimento sustentável da floresta “com recurso a espécies autóctones, como o carvalho, sobreiro, azinheira, castanheiro, nogueira, cerejeira, espécies ecologicamente bem-adaptadas ao território, sendo a melhor opção para conservação do solo e redução do risco de incêndio”. Actualmente, “26% da nossa floresta é ocupada por uma monocultura de eucalipto em desacordo com o equilíbrio ecológico do nosso território”.

Outra sugestão para ajudar as florestas do país é “melhorar a coesão e o desenvolvimento territorial, facilitando e apoiando as iniciativas empresariais e públicas de base local. Para isso é necessário que o Estado execute as verbas destinadas ao investimento no desenvolvimento rural e à prevenção dos incêndios”.

Além disso, o GEOTA defende a “cooperação florestal em áreas onde predominam as propriedades de pequena extensão, sendo disponibilizados os instrumentos necessários para potenciar a boa gestão florestal”.

É ainda crucial “desenvolver e expandir capacidades de proteção da floresta, especialmente no setor público, onde deve ser incluído o planeamento à prevenção de incêndios” e “promover a literacia sobre a floresta e a cidadania, sendo essencial dar a conhecer o mundo rural e a natureza aos jovens”.

“Sabemos que é preciso mudar o rumo das florestas portuguesas”, comentou Miguel Jerónimo, coordenador dos projetos Renature. “Na sequência do grande incêndio de 2018 que dizimou a floresta da Serra de Monchique criámos o primeiro projeto Renature, no qual se desenvolvem ações de reflorestação e de recuperação da área ardida. Em resultado dos trabalhos no terreno foram plantadas 270 mil árvores autóctones e apoiados cerca 60 proprietários”, lembrou.

Replicando o trabalho que tem vindo a ser feito, o GEOTA criou em 2021 um segundo projeto, o Renature Leiria, para devolver o verde ao Pinhal de Leiria com 1 milhão e trezentas mil árvores até 2026. Até ao momento foram plantadas 360 mil árvores.

Já este ano, na sequência dos incêndios ocorridos em 2017 e 2022 que afetaram significativamente a região da Serra da Estrela, o GEOTA iniciou o projeto Renature Estrela, onde já se plantaram 50 mil árvores autóctones.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.