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Abetarda. Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

Conheça o projecto que vai reduzir colisões e electrocussão de 7 espécies de aves com linhas eléctricas

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Já começaram os trabalhos do LIFE PowerLines4birds para reduzir o impacto das linhas elétricas por eletrocussão e colisão para sete espécies prioritárias de aves, como a águia-imperial e o abutre-preto. A Wilder falou com Rita Alcazar, coordenadora deste projecto que junta dois países, Portugal e Espanha.

Abutre-do-Egipto (Neophron percnopterus), águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti), abutre-preto (Aegypius monachus), abetarda (Otis tarda), sisão (Tetrax tetrax), tararanhão-caçador (Circus pygargus) e rolieiro (Coracias garrulus). Estas são as aves para as quais este projecto vai trabalhar até Abril de 2027 em 23 Zonas de Protecção Especial (ZPE) de Portugal e Espanha.

um abutre-preto a voar
Abutre-preto. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

“Estas espécies foram escolhidas ou porque são ameaçadas – por terem populações muito reduzidas ou porque a Península Ibérica é o seu bastião na Europa, como a abetarda e o sisão – ou porque são muito vulneráveis à electrocussão e/ou colisão com linhas eléctricas”, explicou hoje à Wilder Rita Alcazar, da Liga para a Protecção da Natureza (entidade que lidera o projecto) e coordenadora do LIFE PowerLines4birds.

Por exemplo, a águia-imperial é vulnerável à electrocussão e os abutres e o tartaranhão-caçador são vulneráveis tanto à electrocussão como à colisão. “Estas aves têm dificuldade em ver os cabos e de se desviarem”, explicou Rita Alcazar.

O rolieiro surge no projecto por ser vulnerável à electrocussão. “E queremos tentar ainda tornar a rede eléctrica um local de nidificação para esta espécie, para alargar a sua área de ocorrência. Para isso vamos colocar caixas-ninho nas linhas eléctricas seguras”, mais concretamente em apoios anti-eletrocussão da rede eléctrica.

Sisão. Foto: Pierre Dalous/Wiki Commons

O projecto, cuja apresentação pública aconteceu a 26 de Maio no Auditório do Centro de Interpretação de Monsanto, em Lisboa, vai durar até Abril de 2027 e é financiado em mais de quatro milhões de euros pela União Europeia (UE).

Os trabalhos já começaram. As equipas estão a monitorizar as linhas previstas para correcção e a hierarquizar as prioridades. “Há muitos milhares de quilómetros de linhas e precisamos garantir que as verbas são utilizadas em locais com prioridade de topo”, acrescentou a especialista.

Os primeiros trabalhos de correcção de linhas vão começar no segundo semestre deste ano no Douro Internacional, Vale do Guadiana, Castro Verde e Tejo Internacional.

águia-imperial-ibérica em voo
Águia-imperial-ibérica. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

Este projeto é liderado pela Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e reúne como parceiros a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), a QUERCUS, a Sociedad Espanhola de Ornitologia (SEO) e a E-REDES -Distribuição de Eletricidade SA. Conta ainda com a colaboração do ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

Os responsáveis acreditam que o LIFE PowerLines4birds “aumentará substancialmente as áreas seguras de reprodução e alimentação, reduzindo o risco de mortalidade de aves devido a linhas elétricas em 23 ZPE transfronteiriças (14PT+9SP), contribuindo assim para proporcionar melhores condições de sobrevivência e melhorar as populações destas espécies na Península Ibérica”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.